As estrelas e o Menino Jesus

23 dezembro 2011


Hoje recebi um e-mail em que essa pessoa diziam que parou para olhar o céu, contemplar as estrelas e relacionou isso ao Nascimento de Cristo. Isso me fez pensar sobre a semelhança das estrelas e a vida de Cristo. Tá certo, parece estranho eu tentar fazer esse tipo de relação, mas acompanhem o meu raciocínio.

Quando olhamos para o céu, a noite, enxergamos estrelas brilhando. De vários tamanhos, de intensidades variadas. O que afinal vemos? Não sou um especialista em astronomia, mas sei que a estrela mais próxima de nós está de fato há uma distância que não sou capaz nem mesmo de mensurar. É muito longe. A luz que esta estrela irradia, viaja pelo universo durante centenas e até milhares de anos, para que possamos contemplá-la. Se isso é verdade, provavelmente algumas dessa estrelas que enxergamos no céu, nesse momento são estrelas já mortas, mas que, por essas coisas incríveis da natureza, continuam irradiando luz através de milhares de anos pelo universo.

Fiquei pensando que esta é uma figura que me remete à Deus, ao nascimento do menino Jesus, o qual celebramos sempre na noite de Natal. Não é exatamente isso que acontece? Jesus morreu na cruz por nós, há mais de dois mil anos, mas continua irradiando luz sobre a terra, continua presente no céu de nossos corações, continua enfeitando nossa vida de alegria. E mesmo antes de nascermos, Deus já gestava essa luz para que pudéssemos contemplá-la milhares de anos após sua morte, exatamente como acontece com as estrelas que precisaram morrer há milhares de anos para que pudéssemos contemplar hoje o seu brilho.

Quando estamos na escuridão, se olharmos bem, seremos capazes de enxergar a luz que irradia do coração de Deus, assim como somos capazes de perceber a estrela brilhando no céu escuro.

Na noite de Natal, se puderem, permitam-se contemplar o brilho das estrelas e lembrar que Jesus, assim como elas, continua irradiando sua luz no coração da humanidade.

Feliz Natal.

Para uma menina chamada Amor

20 dezembro 2011



Menina de nossos sonhos
Se nome ainda não tens
De Amor te chamarei

Afinal, Amor é o que tens mais
Amor dos teus pais

Mas não esqueça do Amor que vem vindo
Reconheça: é o amor do teu Dindo

Pra minha pequena nova afilhada

As aparências enganam!

14 dezembro 2011


   Ontem aconteceu algo bem interessante comigo e que gostaria de partilhar com vocês. Eu estava no Foro Central, em Porto Alegre, tirando cópias de um processo. A menina que trabalha na máquina de xerox tinha os cabelos bem curtos, meio avermelhados, um piercing no nariz, se não me engano. Era aquele tipo de menina que poderíamos descrever como diferente do "normal", ou pelo menos diferente daquilo que eu tenho registrado como "normal". Só isso já desperta uma infinidade de pensamentos  e preconceitos que carregamos desde de nossa tenra infância, o que no meu caso não é diferente de ninguém. É a tal da "primeira impressão" que eu já tratei aqui no blog em outro momento. Aquela fração de segundo em que apenas baseado na "estampa" (termo usado no Rio Grande do Sul para determinar a figura, a imagem da pessoa), somos capazes de trazer à tona todo o tipo de preconceito que carregamos.
   Pois bem, no momento em que estava tirando o xerox, ouvimos uma música natalina que nos parecia cantada por um coral. A menina logo procurou saber de onde vinha, mas não deixou de fazer o seu trabalho. Peguei as minhas cópias e saí do cartório. Foi quando me deparei com o tal coral, cantando músicas natalinas pelos corredores do Foro. Era um grupo composto basicamente por pessoas bem idosas, mas felizes por estar trazendo aquela mensagem para todos que ali estavam. O coral era da AJURIS e, pelos comentários que colhi por ali, era capitaneado por um desembargador aposentado. Todos estavam radiantes de estar ali cantando. Cantaram algumas músicas e saíram em direção a outro andar do prédio. Foi então que me encaminhei para a saída. Quando olhei para a porta do cartório, estava lá, aquela menina - que me parecia "rebelde" - chorando copiosamente, emocionada com aquele gesto, que fazia pessoas idosas passar uma tarde cantando e tentando alegrar um pouco aquele ambiente sempre tão estressante.
   Saí de lá pensando nisso, no quanto somos capazes de rotular as pessoas sem nem mesmo conhecê-las, sem conhecer a forma com que reage ao mundo e seus estímulos. Fazemos esses juízos precários cotidianamente, sem piedade, com a dureza característica do instante, estanque, descontextualizado.
   As pessoas não podem ser carimbadas pela "primeira impressão", precisamos verdadeiramente nos livrar disso. O que importa, não é a cor do cabelo, um belo sorriso estampado no rosto (mesmo que não verdadeiro), uma roupa de grife. O que importa verdadeiramente é a abertura do coração; o quão aberto está para receber o novo, o diferente; o quão aberto está para receber um gesto, um sorriso, uma canção; o quão aberto esse coração está para dar e receber amor. Não importa o tamanho do cabelo, a quantidade de brincos que tem na orelha ou o tipo de roupa que veste, isso é perfumaria, isso é periférico. A essência - essa sim fundamental - é a forma como me entrego para o outro, a forma como sou capaz (como fez a menina da história) de me emocionar com um simples gesto de carinho.
   Deus nascerá nesse Natal nos corações abertos ao seu chamado. Ele bate à porta de todos, mas Ele respeita, Ele espera, Ele perdoa. Ele não impõe, Ele não sufoca. Viver o Natal não é nada além de estar de coração aberto para que Jesus possa nascer no coração de cada um e que este nascimento seja também fonte de amor na vida de cada um que o recebe e na vida daqueles que os cercam. Esse é verdadeiro sentido do Natal. Esse é o verdadeiro sentido do amor.

Meu (longo) cartão (pessoal) de Natal

08 dezembro 2011


Amigos, mais um ano que vai chegando ao seu fim. A proximidade do Natal sempre me põe a pensar sobre muita coisa. O aniversário de Cristo é pra mim como um estopim, que me faz reagir a todos os estímulos, sensações, sentimentos que fizeram parte do meu cotidiano, durante todo o ano que se passou. Costumo parar para pensar sobre as coisas que me afetaram durante o ano, tentar entendê-las, organizá-las em relação às minhas crenças e a forma pela qual eu encaro a minha vida. Creio sinceramente que esta é uma forma bastante eficaz de me colocar diante da vida e tentar colher dela tudo aquilo que talvez ainda esteja esparramado, deixado de lado, mas que se percebido com maior atenção, mostra-se fundamental no meu processo humano. Quem sabe isso não possa ser uma proposta interessante para esse final de ano? Quem sabe isso também possa ser importante na tua vida? Não sei, tente e veja no que vai dar.

Quem acompanha o meu blog talvez entenda um pouco essa minha inquietação em enteder as coisas que sinto. Esse ano foram muitas coisas vividas e tantos outros ensinamentos percebidos. Lembro que em um dado momento eu falava sobre sucesso. O que realmente significa sucesso. Hoje, ao refletir sobre o que passou no ano, inevitavelmente preciso me fazer essa pergunta. Fui um cara de sucesso? Como dizia naquele momento, creio que sim, pois o sucesso não está relacionado com o que tenho, com o quanto de dinheiro fui capaz de acumular, com a quantidade de tapinhas nas custas eu fui presenteado. O meu sucesso é a quantidade do que sou e não do que tenho. É a alegria no rosto da minha filha. É o olhar da minha esposa. É o abraço de meus amigos. O meu sucesso está intrinsecamente relacionado com o amor que sou capaz de oferecer e receber.

Esse ano aprendi muitas coisas com a minha filha. Aprendi com ela a enxergar além do feio e do bonito, aprendi com ela a enxergar a essência, a não ter medo do que me parece diferente, a ultrapassar a barreira da “pirmeira impressão”, pois, diferente do que sempre dizemos, creio que a primeira impressão não é a que fica, mas é a que desvela nossos preconceitos, é a que traz a tona tudo aquilo que aprendemos a diagnosticar entre bonito e feio. Por isso, creio que preciso fazer força para ultrapassar a primeira impressão e dispensar o juízo do feio e do belo para que, de fato, entenda a beleza da essência e da humanidade dos que me cercam. Aprendi a amar sem prestar atenção no que é periférico.

Esse ano conheci mais de perto pessoas diferentes. Diferentes de mim, de “mundos” diferentes dos quais eu costumava viver. Pessoas que compreendem a vida, a fé, o amor, a amizade, Deus, de outra forma que não necessariamente a mesma compreensão que tenho. Descobri que isso me fez aprender mais sobre mim, me fez crescer no entendimento de quem sou, de como sou e como percebo o mundo a minha volta. Através deles, fui capaz de compreender melhor minhas posições, solidificar minhas crenças, crescer na minha fé, me aproximar de Deus. Aprendi que há um verbo que tem muitos nomes, mas um só significado. O verbo AMAR. Uns o chamam de Deus, outros preferem nomea-lo de outras formas. Porém, o que importa de verdade é a vontade de viver esse verbo e de disseminar seu ensinamento para toda a humanidade. Agradeço a Deus por me mostrar isso.

Aprendi que estou ao lado de uma mulher de garra, de coragem e de capacidade, que talvez ainda não tenha plena consciência do que é capaz, mas que tenho confiança que um dia olhará para trás e verá o tamanho da importância que tem na minha vida e na vida de tanta gente que a cerca (e ela costuma andar sempre cercada de muitos), que a ama e que a admira.

Aprendi que ser pai é um processo diferente de qualquer outro, pois o seu desenrolar não depende apenas de mim e que o processo se desenvolve através de uma lente que não é a minha, que o mundo é percebido não pelos meus olhos e ouvidos e que isso tudo é a experiência mais bonita que um ser humano pode viver: a de acompanhar o desabrochar da flor, conhecendo cada passo, mas sendo surpreendido com a beleza do fruto, que, mesmo que diferente do imaginado, é ainda mais belo do que o desejado.

Que neste Natal estejamos prontos para deixar Jesus nascer em nossos corações.

Advento

30 novembro 2011


   O Advento marca o início do Ano Litúrgico para a igreja católica. Advento significa chegada. É a expectativa da chegada de Cristo que celebramos nesse tempo.
   No Evangelho desse domingo Jesus faz um apelo: vigiai! (Mc 13,37). No Angelus do dia 27/11/2011, o Papa Bento XVI, comentando essa palavra disse: é um apelo salutar a recordar-nos que a vida não tem somente a dimensão terrena, mas é projetada rumo a um "além", como uma muda que brota da terra e abre-se para o céu. Uma muda pensante, o homem, dotada de liberdade e responsabilidade, pelo que cada um de nós será chamado a dar conta de como viveu, de como utilizou as próprias capacidades: se as reteve para si ou as fez desfrutar para o bem dos irmãos.
   Notem que o apelo a que se refere o Papa é uma advertência muito importante e que devemos refletir com profundidade. Vigiai! Somos livres e responsáveis pelo o que fazemos de nossas vidas, porém, importante que utilizemos esses dons para o bem de todos. Mais do que isso, é preciso que fiquemos atentos, vigilantes, para que as nossas obras sejam de fato na construção do amor, na construção do bem de todos e não apenas na satisfação de nossas vaidades. Vigiar para que a nossa vaidade seja abafada e que nossos atos sejam verdadeiramente na construção do reino de Deus, esse reino que está prestes a receber seu rei, Jesus Cristo. Nós somos responsáveis por abrir o caminho para que Deus reine nos corações de todos, que o amor reine soberano no coração da humanidade. Por esse motivo, o tempo do Advento é também um tempo de conversão, pois precisamos começar a preparar o caminho dentro do nosso próprio coração, rejeitando tudo aquilo que nos afasta do amor, que nos afasta de Deus.
   O tempo do Advento é um tempo de esperança, porque Cristo é a nossa esperança e Ele está chegando para viver no meio de nós, para ser o senhor de nossas vidas. Não um senhor que nos aprisiona ou que nos impõe sua vontade, que nos mete medo e nos faz submisso através dele, mas um senhor que promove aquilo que há de melhor em cada um, que nos faz caminhar ao seu lado irradiando esse amor para os que nos cercam, que nos acolhe com um gesto ou uma palavra. Um senhor que na verdade é Pai, é amigo. Nas palavras do Papa: O Tempo do Advento vem a cada ano recordar-nos isso, para que a nossa vida reencontre a sua justa orientação, em direção ao rosto de Deus. O rosto não de um "patrão", mas de um Pai e de um Amigo.
   Que a espera dessa chegada seja vivida com alegria e que permaneçamos vigilantes à espera de Cristo.

Escolhas

21 novembro 2011



Na semana que passou fui apresentado a um site muito interessante que recomendo a todos (http://www.ted.com/). Eles usam o slogan Ideas Worth Spreading, que pode ser taduzido como: vale a pena espalhar ideias. Pois bem, um desses vídeos que se encontram nesse site, traz uma reflexão muito interessante. O palestrante, Damon Horowitz, provoca os espectadores a fazer várias escolhas levantando as mãos, como por exemplo,  iPhone x Android. Todos tinham opinião formada. Porém, na última pergunta, tratando de um caso específico, queria saber se deveríamos utilizar uma estrutura moral deontológica Kantiana ou deveríamos utilizar a ética consequencialista de Stuart Mill. Como podem prever, poucos tiveram a coragem de votar. Então, definiu aquilo como algo terrível, pois verificou que temos mais opiniões sobre nossos dispositivos portáteis do que a respeito da estrutura moral que deveríamos usar para tomar nossas decisões, e então deixou o questionamento que me fez pensar muito: como sabemos o que fazer com o poder que temos se não temos uma estrutura moral definida?

De certa forma, nunca refletimos sobre como fazemos para definir o que é certo e o que é errado. Tomamos decisões em nossas vidas sem pensar nessas questões. Por vezes até fazemos esse juízo ético, mas sem tomar consciência de como fazemos. Por vezes, não fazemos qualquer juízo, o que pode gerar grandes problemas. Infelizmente (ou felizmente) a definição do certo e do errado não está em uma fórmula imutável, apesar de que Platão até pudesse imaginar que a encontraria. Portanto, só nos resta pensar sobre nossas ações, para que estas tenham verdadeiramente o sentido de bem ou de mal que buscamos. Como disse Hannah Arendt (bem lembrado pelo palestrante): a triste verdade é que a maioria do mal feito nesse mundo não é feito por pessoas que escolheram serem más. Isso emerge do não pensar.

O palestrante traz a reflexão sobre duas formas de pensar eticamente. Mill e o utilitarismo, que traz a ideia do bem-estar, ou seja, o agir deve estar diretamente ligado àquilo que trará o máximo de bem-estar. O agir se baseia nas suas consequências. Peso as consequências e escolho o caminho do agir conforme possa trazer mais benefícios a todos que o outro caminho traria. Importante aqui é que o maior benefício deve ser para todos e não apenas para o indivíduo, o que seria apenas egoísmo. Então, quanto maior o benefício, melhor a decisão. Esse é um argumento ético que me parece típico daquele que defende a guerra, por exemplo, pois sempre tenta imaginar que, mesmo gerando algumas mortes, a salvaguarda da maioria dos cidadãos é um benefício maior. Porém, aquele que faz a guerra sem esse paradigma é capaz de atrocidades inimagináveis.

Kant, por sua vez, com seu "imperativo categórico", que é imperativo por ser um dever moral e categórico por atingir a todos, advoga que o agir deve ser sempre baseado naqueles princípios que você gostaria de ver aplicados universalmente. Seria algo como "faça aos outros o que gostaria que fizessem a você", porém, ainda mais ampliado: "faça aos outros o que gostaria que todos fizessem para todos". Aqui, na minha opinião, está o fundamento que me afasta do racismo, da homofobia, etc.

Portanto, o julgamento moral e ético deve ser feito quando do nosso agir/decidir. É necessário que o façamos, para não corrermos o risco do alerta de Arendt. Você alguma vez já pensou nisso? Se sim, ótimo; se não, estamos no mesmo barco. A questão agora é pensar!

Campo Florido

07 novembro 2011


Para o Acamps Casais

Vidas misturadas
Corações expostos
Amor e sofrimento

O cheiro do mato
O calor do abraço
O sabor da lágrima

Teia de emoções
Avalanche de sentido
Barro moldado a dois

Histórias de um campo florido

Eu em Ti

25 outubro 2011


Eu despido de mim
Sou Teu nessa hora
No espelho o Teu reflexo
Será que me reconheço?

Minha essência é o Teu amor
Estando em Ti
Sou todo Eu

Festa das crianças e de nossa Mãe "Aparecida"

11 outubro 2011

   Amanhã celebraremos duas festas maravilhosas: o dia das crianças e a festa de Nossa Senhora Aparecida. Uma instituída por decreto (a das crianças) e outra instituída pela graça. Na minha vida, essas duas festas tem um significado especial, pois não é por acaso que eu e a Clarissa escolhemos para a nossa filha o nome de Mariana. De uma certa forma, esse foi um gesto de consagração da vida da Mariana a Deus por intermédio das mãos de nossa mãe Maria. Durante todo a gravidez da Clarissa, e mesmo antes dela, sempre entregamos à Maria essa nossa vontade de ser pai e mãe, nossa angústia pelo desconhecido e nossa alegria por tê-la nos braços quando nasceu.
    Não sei quem teve a ideia de instituir o dia da criança no mesmo dia da festa de Nossa Senhora Aparecida, mas hoje vejo que a relação é direta. Afinal, se a festa é da mãe de todos nós, não há dúvida que ela colocaria seus filhos em plano de destaque de sua festa. Não é assim que as mães fazem? Somos todos as suas "crianças" e, portanto, se o dia é da Maria, não tenho dúvidas que ela diria que o dia é de suas crianças.
    Esse dia também pode ser para reflexão dos adultos, para que pensemos naquilo que talvez tívéssemos nos nosso tempos de crinaça e que talvez não devêssemos ter perdido. Hoje, lembrando a minha infância e vivendo a infância junto da Mariana, quero buscar reviver algumas coisas e tentar retomar conceitos e atitudes de antes.
    Quero ser mais alegre. Alegre para saborear a beleza da natureza, a beleza do amor que recebo e que ofereço. Alegre para cantar por aí uma música boa, para andar de balanço e sentir o vento no rosto, para estar perto de meus amigos para fazermos bagunça e falar bobagem.
    Quero ser mais destemido. Destemido em relação à vida e suas dificuldades. Destemido para enfrentar os temporais com paciência, para enfrentar o medo do escuro e dos bichos papões que me rodeiam.
    Quero amar sem limite. Amar sem pensar nas imperfeições do outro. Amar sem esperar o retorno.
    E você, fez a sua reflexão? Partilha aí com a gente.


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Política, cidadania, eleições

07 outubro 2011


    Estamos há exatamente um ano das eleições municipais. No dia 07/10/2012, estaremos novamente escolhendo aqueles que representarão nossos interesses, ideais, visão de mundo, ideia de sociedade, etc. Escrevo isso aqui, pois penso que podemos determinar o dia de hoje como um marco de reflexão. Refletir sobre a forma pela qual estamos atuando na sociedade, como nos inserimos (ou não) no cenário político e social, lembrar e avaliar os votos anteriores e projetar as próximas eleições.
    Sempre tive dificuldade em compreender e aceitar aquelas pessoas que dizem que não gostam de política, ou que não se envolvem com política. Lamento informar meus amigos, mas o fato de não gostar de política (que imagino tratar-se da política partidária) não tem o condão de retirá-los do convívio cotidiano da política. É impossível, em um ambiente democrático, não se envolver com a política. Exagerando para entender: tudo é política. Cotidianamente estamos cercados de fatos e atitudes que tem relação direta com a política. Não tem saída.
    De outra forma, vejo aqueles que imaginam que com essa postura terão a possibilidade de se eximir de suas responsabilidades como cidadão. A cidadania está intimamente ligada à noção de direitos e deveres. A própria definição de direitos, pressupõe a contrapartida de deveres. Quem vive em sociedade, necessariamente, tem seu direito garantido a partir do cumprimento dos deveres dos demais componentes dessa mesma sociedade. Não tem outro jeito. Portanto meus amigos, a não ser que tenhas a aspiração de se tornar um ermitão, terás que te envolver na política, ou seja, no convívio em sociedade, o que se faz, no nosso modelo atual, através dos representantes eleitos pela coletividade. Isso significa dizer que transferimos a maior parte de nossas decisões coletivas a essas pessoas a quem confiamos (grifei) nosso voto.
    A partir dessa definição, vemos claramente que a decisão a ser tomada daqui a um ano não é fácil, já que determinará de que forma orientaremos nossa ação pelo menos nos próximos quatro anos.
    Infelizmente, essa tendência de discurso legitimador da desresponsabilização, que insistimos em vociferar pelas mesas dos bares, é crescente. Pra mim, a pior tendência de todas é uma combinação de assertivas que tem um potencial catastrófico importante. Dizemos insistentemente que os políticos são corruptos e que não têm qualquer alternativa a eles e, ao mesmo tempo, nos desoneramos da responsabilidade pela atuação política dessas mesmas pessoas, justificadas pelo argumento dessa característica essencial dos agentes políticos, qual seja, a corrupção. Não tenho a intenção de dizer que não há corrupção no nosso país, mas afirmo, sem medo de errar, que cada vez que nos utilizamos desse combinado argumentativo ela só faz aumentar, pois não há ninguém mais interessado em um eleitor conformado do que um político corrupto.
    Por que motivo, afinal, no Brasil votamos em candidatos totalmente divorciados de qualquer histórico de atuação política ou social junto às comunidades? Votamos no mais bonito, na mais gostosa, no craque do time, no cantor famoso, no ator de novela. Não é que não possamos votar neles, mas o pressuposto que nos faz votar em alguém não pode ser outro do que a forma de atuação dessa pessoa (e seu partido político) na sociedade, ou, pelo menos, o projeto de atuação na sociedade que esta mesma pessoa nos oferece. O problema é que preferimos não saber de nada disso, pois assim é mais fácil se queixar depois e dizer que foi enganado ou que não era nada disso que esperávamos. Ora, se nem mesmo conheço o projeto de sociedade do candidato a quem confio meu voto, como posso ali na frente cobrar a sua prática?
    Portanto, convido a todos a refletir os nossos últimos votos, lembrar as expectativas que tínhamos, avaliar se foram cumpridas, se sim ou se não, entender o porquê e não deixar de refletir profundamente sobre o que realmente queremos de nossa sociedade, de que forma queremos e podemos interferir em seus processos, para que daqui há um ano, estejamos preparados para votar melhor.


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Bodas de Cerâmica

27 setembro 2011


Amanhã, dia 28/09/2011, eu e a Clarissa comemoramos as nossas Bodas de Cerâmica (foi o que encontrei na internet), pois estaremos celebrando nove anos de casados. Eu estava aqui pensando o que escrever sobre esses nove anos e, ao me deparar com o nome desiginado às comemorações de 9 anos de casamento, vi que seria uma possibilidade interessante de dizer algumas coisas.
A Cerâmica, é fruto de um processo interessante. Molda-se a argila. Depois, essa peça moldada é submetida a um processo lento de secagem à sombra, para retirar a maior parte da água e, em seguida, é submetida a altas temperaturas, o que lhe dará rigidez e resistência. Creio que o casamento é algo parecido com esse processo.
Primeiro nos conhecemos lá em julho de 1993, começamos a namorar em novembro, noivamos alguns anos mais tarde, casamos em 2002, em 2007 nasceu a Mariana. Passamos aqueles anos de namoro moldando essa "peça" em argila, mas aquela peça ainda era frágil, maleável. Então, aos poucos, fomos deixando a água secar até que pudéssemos submetâ-la às altas temperaturas do casamento, e hoje, somos esse "objeto" rígido e resistente, capaz de suportar a poeira do tempo, o desgaste natural do dia-a-dia, mas guardando consigo a beleza e a essência moldada no passado, mesmo com as lascas que vão aparecendo no decurso do tempo, pelo uso intenso, as quais são guardadas e lembradas como cicatrizes de guerras que passaram e que foram aprendizado.
A nossa história é assim. Fomos construindo juntos esse pote de barro que se tornou pra nós um baú de experiências boas e ruins, todas vivenciadas na direção do amor, do respeito, da entrega, do serviço, do perdão. Amanhã completamos 9 anos desse lindo pote, em que cada lasca, cada arranhão em sua superfície, é uma lembrança bonita, uma experiência vivida com amor.
Clarissa, felicidades para nós. Que consigamos continuar mantendo o nosso "pote" sempre cheio de amor, entregando a Deus nossas dificuldades e batalhando a cada dia pela felicidade da nossa família. Obrigado por me amar, por me aturar, por me sustentar, por me fazer melhor a cada dia. Te amo cada dia mais.

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Reflexão: Paternalismo + Individualismo + Jeitinho Brasileiro

23 setembro 2011


   Editado em 24/04/2012: Novo título do post recomendade pelo professor Diego Canabarro: "Da ingovernabilidade no Estado brasileiro: os efeitos de uma população ingovernável"

   Ontem foi o meu primeiro dia de aula no Pós em Gestão Pública, lá na UFRGS. Estávamos conversando sobre o Estado, seu tamanho, diferença entre público e privado, quando o prof. Eugenio Lagemann nos lançou uma reflexão sobre a característica do povo brasileiro em reclamar demasiadamente de tudo que se relaciona com o setor público, de não colaborar com o sistema e, consequentemente, com a sociedade. Fiquei pensando, afinal, quais as principais causas desse comportamento. Aqui, pretendo tratar de três delas: o paternalismo, o individualismo e o jeitinho brasileiro. 
   Quando falo em paternalismo, por óbvio, não estou tratando objetivamente do paternalismo, mas das consequências que esse fenômeno (se é que posso chamá-lo assim) ainda nos traz nos dias de hoje. O brasileiro continua tendo de forma muito forte em sua cultura, a idéia de que o Estado é aquele ente que tem o papel de dizer o que é bom pra mim e ainda me fornecer esse "bem". De uma certa forma, entendo que meus problemas, minhas dificuldades, tem soluções que não me dizem respeito, das quais não tenho responsabilidades, ou seja, não preciso, não devo e não quero me envolver com a solução dessas questões.
   O individualismo soma-se a esta concepção proveniente do paternalismo e a exacerba. Percebam que a priori o individualismo é contraposto ao paternalismo. Porém, o individualismo que falo, é uma nova forma de individualismo que estamos experimentando no nosso tempo, em que o indivíduo não mais busca a liberdade e a responsabilidade pelos seus atos, assumindo deveres e direitos, mas busca apenas realizar os seus projetos, sem qualquer comprometimento com os projetos coletivos e, ainda, eximindo-se das suas responsabilidades com eles (deveres) e exigindo cada vez mais os seus direitos.
   Soma-se a isso, ainda, o nosso tão famoso "jeitinho brasileiro". Aquele que ainda hoje é cantado em prosa e verso como sendo uma virtude do brasileiro e que, na minha opinião, é um dos maiores malefícios da nossa sociedade. O jeitinho brasileiro é o veículo para a legitimação desse individualismo paternal (se é que podemos chamar assim). O cidadão, através do jeitinho brasileiro, conforma-se com a prática de pequenos delitos, que são até considerados inofensivos em grande parte das vezes.
   Não sei o que pensam sobre isso (gostaria que comentassem e me ajudassem a refletir) mas creio que são nesses pontos que precisamos atuar para que modifiquemos a forma de enxergar o Estado e suas responsabilidades.

4 anos de Mariana

13 setembro 2011

Nascimento da Mariana
1 aninho da Mariana
2 aninhos da Mariana
3 aninhos da Mariana

     Ainda me lembro bem daquele 14 de setembro de 2007. Acordamos cedo para ir ao Hospital (infelizmente não deu pra a Mariana nascer pelo parto normal, pois a Clarissa teve diabestes gestacional, o que no fim até se mostrou benéfico, pois a Clarissa se cuidou muito e fez tudo direitinho durante a gravidez). O horário marcado era 6h daquela sexta-feira. Lembro que quando saímos de casa ainda era escuro. Estávamos felizes, radiantes, mas muito nervosos e ansiosos. Aquele era o dia tão esperado, tão sonhado. Um dia que foi gestado em nossas mentes e corações (e de muitos outros que vivem perto de nós) durante os quase 9 meses que antecederam aquele momento. Eu não sabia bem o que viria, como seria minha vida depois daquele dia. Não tinha certeza de nada além da única certeza que me invadia a alma: eu era a pessoa mais feliz do mundo.
     A Mariana nasceu, os anos foram passando e aquela certeza mudando. Hoje, a única certeza que tenho é que sou a pessoa mais feliz do que a pessoa mais feliz do mundo. Não há como explicar o amor sentido por um pai (pelo menos o que eu sinto é assim). A explicação do amor paterno é como uma prolixidade às avessas, pois a explicação do amor paterno trata-se de um excesso de ideias exprimidas em poucas palavras. Não há concisão no amor.
     Os que conhecem a Mariana vão entender bem o que estou escrevendo aqui. A Mariana é uma criança alegre, amante da vida, que gosta de partilhar seus momentos com os outros, que entrega seu amor gratuitamente aos que se aproximam dela, que cuida e cultiva aqueles que se aproximam dela, que tem interesse no outro, que não tem vergonha de demonstrar o que sente, que não tem qualquer tipo de preconceito. Claro que sei e conheço os seus defeitos, mas prefiro exaltar aquilo que pra mim supera qualquer defeito e qualquer dificuldade: a capacidade de amar.
     Nesses quatro anos de vida da Mariana, creio que eu também aprendi muito sobre tudo isso que escrevi sobre ela. Na verdade, tenho certeza que aprendo muito mais sobre a vida e sobre o amor com a Mariana do que ela aprende comigo. Nós dois (e aqui falo muito em nós dois, porque é um relato de pai, mas sempre que digo dois, leia-se três, pois a Clarissa é parte integrante disso tudo também) temos aproveitado muito a nossa convivência, pois temos sido capazes de permitirmo-nos experenciar sem medo da consequência que essa experiência possa nos causar, mas sendo capazes de parar para pensar e entender os efeitos dessas transformações. Parece algo complexo para uma criança de apenas 4 anos, eu sei, mas é exatamente assim que enxergo a caminhada da Mariana. Espero que ela continue vivendo essa liberdade de pré-conceitos e seja capaz de constriuir seus próprios conceitos e valores, a partir daquilo que recolhe de suas experiências e, porque não, das observações que faz das vivências daqueles que estão próximos.
     Minha filha, um feliz aniversário e que Deus continue sempre te abençoando.

Relacões em 140 caracteres

31 agosto 2011


Tenho pensado muito sobre esse tema. Fala-se muito nas maravilhas das redes sociais e de como as pessoas se encontram/reencontram através delas. Realmente é verdade. Nos encontramos/reencontramos com muita gente. Pessoas que conhecemos bem, outras nem tanto. Grandes amigos de infância e outros que mal sabemos o nome. A minha pergunta é quão amigos são os nossos "amigos" do Facebook, por exemplo? Como começar ou mesmo manter uma amizade em 140 caracteres?

Quanto mais avançamos no uso das redes sociais (virtuais), menos participamos das redes sociais (presenciais), ou seja, menos nos relacionamos com as pessoas em sua intimidade, no toque, olhando no olho, abraçando, chorando junto, rindo junto, apenas conversando sobre qualquer coisa ou mesmo sem falar nada. Esse relacionamento verdadeiro (o presencial) anda meio perdido, meio dora de moda. A gente "ganha" mais tempo mandando um SMS, "curtindo" uma frase deixada no "Face" ou respondendo alguma coisa em míseros 140 caracteres no twitter. Não é assim?

As pessoas têm dito que as redes sociais têm exposto a vida das pessoas. Eu penso diferente. Pra mim, as redes sociais são mais um escudo. Ali podemos escrever qualquer coisa, sem mostrar o tom de voz, o rubor da face, a lágrima, o sorriso, nada. São frases estéreis, sem conteúdo emocional, sem a força da intenção, sem a fraqueza/fortaleza do olhar. São apenas palavras jogadas ao vento, que podem ser compreendidas, ou não, pelos que as leem. Ninguém consegue falar do que pensa, dos seus sentimentos, de sua vida em 140 caracteres, pelo menos não consegue fazer isso em profundidade. Essa é minha preocupação. As relações humanas têm se dado em apenas 140 caracteres, rasas, sem profundidade, sem compreensão. São relações construídas sobre a areia e não sobre a rocha (se me permitem parafrasear o evangelho de Mateus).

É claro que gosto de utilizar o twitter e o facebook, como muitos sabem, mas o que quero dizer hoje é que essas ferramentas não podem ser substitutas do abraço, do toque, da conversa olho-no-olho, da partilha de vida que se dá "convivendo fisicamente". Uso e continuarei usando essas ferramentas, assim como uso o blog (ainda bem que tenho mais de 140 caracteres pra escrever aqui), mas tenham certeza que os meus amigos eu quero estar perto, quero abraçar, quero olhar seus olhos, quero chorar/rir junto, quero partilhar a minha vida e meus sentimentos segurando suas mãos.

José: exemplo para os pais

08 agosto 2011


   Esse ano a minha homenagem aos pais vai ser um pouco diferente. Fui convidado para falar para o grupo do acampamento sobre paternidade, relacionando com o exemplo de São José. Por conta disso, acabei pensando muito sobre São José e sobre o seu exemplo, o que gostaria de partilhar com vocês, deixando aqui como homenagem a todos os pais.
   Me desculpo desde logo pelo tamanho do texto, mas, como elaborei isso para falar, acabou ficando um pouco mais extenso do que normalmente escrevo aqui no blog. De qualquer forma, vou tentar resumir o máximo.
   Eu nunca parei para pensar seriamente sobre o testemunho de pai de São José, só fazendo isso agora, pois fui provocado pelo pessoal do acamps. Logo de cara me deparei com algo que achei muito interessante: estava diante da história de um homem que é conhecido no mundo inteiro sem ter deixado uma palavra sequer, ou alguém lembra de algo dito por ele? José é um homem conhecido tão somente por seu comportamento.
   José não é um santo conhecido por suas pregações, por feitos extraordinários ou por ser um mártir. José foi apenas um homem comum, esposo, pai, trabalhador. Um homem calado, quase apagado pela história, que talvez tenha como sua maior virtude a de ser "apenas" um homem comum. Um homem capaz de amar, de confiar, de servir, de acreditar. Nada de extraordinário, sem grandes poderes, sem uma força descomunal, nada. Era apenas gente comum.
   Sempre que penso em José, lembro daquela cena linda e feliz que costumamos reproduzir em nossas casas na época do Natal: o presépio. Foi aí que comecei a pensar como foi que chegamos até ali.
   Primeiro, veio o conhecimento da gravidez de Maria. José acolheu, confiou. José nos deu ali o que resolvi chamar de ensinamento silencioso, já que não fez isso por palavras, mas como fruto de seu comportamento. Ensinou a não culpar, não julgar. Mesmo sem compreender direito o que estava acontecendo, não culpa, não julga, mas confia, acolhe.
   Depois, José precisa pegar Maria, grávida, e partir. Ao chegar ao seu destino, precisa encontrar um lugar para o seu filho nascer. Bate de porta em porta e ninguém os acolhe. Consegue apenas uma estrebaria para sua esposa dar a luz. Aqui fiquei lembrando de quando a Clarissa estava grávida. Nossos planos, a forma que arrumamos o seu quarto, escolhemos o berço, as roupinhas, os brinquedos. Fiquei pensando que José, como um carpinteiro, deve ter feito tanta coisa com suas próprias mãos. O berço, alguns brinquedos. Tudo com tanto amor, tanto cuidado, mas ele não poderia colocar seu filho naquele berço, teria que dar um jeito na estrebaria. Imagino que deve ter trabalhado bastante para deixar aquele lugar um pouco mais confortável para Maria e para seu filho que chegava. Mais um ensinamento silencioso de José: o do serviço. O serviço que não recebe elogios, não espera reconhecimento, não lamenta as dificuldades, mas fica feliz por poder fazer alguma coisa.
   Quando tudo parece calmo, os dois estão ali contemplando seu filho, felizes, José precisa novamente partir, pois querem matar o menino. Ele protamente se levanta e segue para um lugar desconhecido. Sem comida, sem dinheiro, sem as ferramentas para exercer sua profissão, mas sempre lutando para preservar sua família. Então, novamente destaco seu ensinamento silencioso: serenidade e determinação. A capacidade de recomeçar, de não desanimar, de não deixar de acreditar, de não perder a confiança.
   Não sabemos exatamente como foi José como pai, não há relatos dessa convivência com seu filho, mas o entendimento dos fatos que conhecemos me dá a certeza que José foi um homem capaz de educar seu filho pelo caminho do amor. Um homem que não culpa, não julga, que confia, que acolhe, que serve, não lamenta as dificuldades, é sereno, determinado, capaz de recomeçar, de não desanimar, de acreditar.
   Ao perceber os ensinamentos de José, compreendemos que o que fez foi amar, foi educar seu filho pelo caminho do amor. Lembram daquela definição de amor que encontramos lá na primeira carta de São Paulo aos Coríntios, está lá em I Cor 13, 4-7. Diz assim: o amor é paciente, é benfazejo; não é invejoso, não é presunçoso nem se incha de orgulho; não faz nada de vergonhoso, não é interesseiro, não se encoleiriza, não leva em conta o mal sofrido; não se alegra com a injustiça, mas fica alegre com a verdade. Ele desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo. Não é exatamente o que fez José na sua trajetória como pai?
   Como pai, sei que preciso dar o exemplo, pois as crianças aprendem, fundamentalmente, através do exemplo, o que não é fácil, pois aí conhecemos aquela parte de nós que não gostaríamos de encontrar em qualquer esquina. Através da Mariana, tenho aprendido muito mais sobre mim do que sobre ela. Todo o dia a Mariana mostra as minhas fragilidades e boa parte das vezes me indica o caminho para supera-las. Uma vez aqui na blog escrevi que os filhos são um espelho para os pais. De fato, tenho me visto nesse espelho e descoberto muita coisa bonita que não reconhecia no espelho do meu banheiro, mas também tenho aprendido a reconhecer e trabalhar as imperfeições que refletem dele.
   Por tudo isso, convido a todos os pais, junto comigo, a mirar o exemplo de José para que possamos seguir ao lado de nossos filhos no caminho do amor, assim como fez José.
   FELIZ DIA DOS PAIS!

Da série: Ensinamentos da Mariana - Entendimentos

01 agosto 2011


   Semana passada, estávamos no carro pela manhã, como fazemos todos os dias, para levar a Mariana para a casa dos avós, onde fica pela manhã antes de ir pra escola. Me lembro ela falando que tinha duas vovós. Ela dizia assim: "pai, eu tenho duas vovós. A mãe da minha mãe e a mãe do meu pai". Momentos depois ela me pergunta: "pai, a tua mãe ainda tá no céu?". Eu respondi de pronto: "sim". Daí ela respondeu: "então eu acho que ela morreu. Porque quando as pessoas morrem, elas vão pro céu".
   Eu sempre falei da minha mãe pra Mariana, desde quando ela nasceu. Sem pre quis que ela tivesse, mesmo que através da minha experiência, uma identificação com a sua avó. Acho triste uma criança não poder se relacionar com a avó. Pelo menos pra mim, sempre foi uma experiência muito rica, especialmente com a minha avó materna, com a qual tive uma experiência mais próxima, mas também com a minha avó paterna, que, mesmo mais de longe, sempre tive aquele sentimento que ali tenho um "colo de plantão", alguém em quem posso confiar e que sempre estará a postos para me ouvir e me ajudar.
   Queria que a Mariana tivesse uma imagem da avó dela. Que soubesse que foi uma mãe maravilhosa, uma avó zelosa (apesar de pouco tempo, "fez das tripas coração" para ajudar meu irmão e estar sempre a disposição pra cuidar da Julia). E como cuidou. E como amou aquela neta.
   Creio que consegui pelo menos que ela tenha um registro dessa avó. Ela sabe o seu nome, tem curiosidade em ver as fotos e por vezes falamos de coisas da Mariana que se parecem com ela.
   Tinha um tempo em que a Mariana me pedia pra visitar a avó. Ela não entendia porque não podia estar com ela, mas acabava aceitando o fato que ela estava longe, lá no céu. Nas noites de lua minguante, a Mariana sempre que via a lua se dirigia a mim dizendo: "pai, olha lá a lua! Eu acho que é a unha da tua mãe!"
   Sempre evitei falar em morte para a Mariana. Na verdade não sabia bem como explicar isso pra ela, mas agora acho que entendi que não preciso pensar tanto em teorias elaboradas para que ela entenda certas coisas. Ela simplesmente entende "do jeito dela", como ela mesmo gosta de falar. Sei que ela não entende exatamente o significado da morte, mas não importa, ela entende que as pessoas morrem, que não se fazem mais presentes e isso acontece porque estão no céu. Isso já basta pra ela por ora.
   É maravilhoso ver como a Mariana cresce e se desenvolve e é maravilhoso ver que a Mariana é capaz de se interessar e demonstrar carinho pela avó que nem mesmo conheceu. Fico feliz como pai e como filho, pois sei que minha mãe também a conhece, a ama e está intercedendo fortemente por ela "lá por cima".

Amigos de tantos lugares

20 julho 2011

   Não sei se vocês notaram, mas incluí no meu blog uma ferramenta que identifica de que lugar do planeta o blog é acessado. Confesso que fiquei muito impressionado com o que vi. Descobri que o blog teve acesso de mais de quinze estados do brasil e ainda de outros quatro países: Estados Unidos, Espanha, Portugal e Colômbia. Por um lado achei fantástico saber disso, mas de outro, me dei conta que não escrevo mais apenas para aqueles amigos mais próximos (o que imaginava quando comecei), o que me deu um certo frio na barriga. Fico pensando se realmente essas pessoas gostam do que escrevo, se identificam com o que escrevo, vivenciam fatos parecidos com os que escrevo.
   Como hoje (20/07) é o dia do amigo, quero aproveitar para tentar saber, afinal, quem são esses "amigos" que têm acessado meu blog.
   Portanto, lanço aqui o desafio. Que todos que acessam o blog, postem um comentário dizendo o seu nome, a cidade/estado/país do qual estão acessando o blog, se me conhecem pessoalmente e, se não, como chegaram ao meu blog. Será que rola? É rápido pra postar!

P.S.: para os que têm dificuldade de postar, eu explico como faz. É só clicar ali embaixo onde diz "comente aqui", depois escreva o seu comentário na caixa que diz "faça um comentário", depois, em "escolher uma identidade", clique na bolinha que diz "Nome/URL", coloque seu nome e clique no botão "publicar comentário". Fácil!

Não tenho todas as respostas

05 julho 2011


   Essa semana tem sido triste pra mim. Ver a dor de meus amigos, senti-la também, mesmo que em proporções infinitamente menores, tem me deixado um tanto triste e tenho pensado muito sobre muitas coisas.
   Fico aqui pensando, pensando, tentando encontrar respostas para perguntas que não são direcionadas para mim. Fico aqui imaginando os porquês. Não encontro a resposta, não concebo qualquer teoria plausível. Não há possibilidade humana de responder certas perguntas. É assim que me acalmo. É assim que sigo em frente.
   Sempre tive dificuldade em aceitar algumas frases feitas que são ditas até com certa autoridade por alguns, mas que me parecem vazias de sentido. Frases ditas e aceitas como consolo. Pra mim não consolam, não bastam, não respondem. Não creio em sua veracidade. Frases como: "Deus quis assim"; "Deus tira com uma mão e dá com a outra"; "Deus dá o frio conforme o cobertor"; "nada é por acaso"; "Deus 'permite'".
   Infelizmente parece que sempre que fracassamos, sempre que vivemos um momento de sofrimento, não perdemos tempo em colocar a "culpa" em Deus. Não me entra na cabeça que Deus, voluntariamente, queira/escolha/permita que eu sofra. Afinal, Deus não é amor, aquele amor infinito, sem reservas? Por que motivo então Deus, em seu amor, "escolhe" que eu sofra se pode escolher que eu seja feliz? Por que Deus "escolheria" que alguém passasse fome, morresse de frio? Por que Deus "escolheria" que uma criança fosse espancada, abusada?
   Ao mesmo tempo fico pensando: bem que Deus poderia de fato interferir em certos momentos. Poderia "não querer" certas coisas. Poderia "não permitir" outras.
   Não creio no tal de destino, no "nada é por acaso", no "não era pra ser" ou no "era pra ser assim". Não dá, não fecha. Se tenho livre arbítrio, como posso estar marcado? Como pode alguma coisa ter dia e hora pra acontecer? Por que não tenho ingerência sobre o meu destino? Será que somos apenas joguetes de Deus? Marionetes manipuladas pra lá e pra cá para satisfazer a vontade de Deus? Será que somos personagens de um tipo de novela global, na qual já sabemos o fim de cada personagem mesmo antes dela começar? Não posso aceitar que sim. Tem que ter algo a mais. Se somos dignos do amor de Deus, não seríamos nós meros espectadores de nossas vidas.
   Enfim, a única conclusão que consigo chegar e única resposta que consigo aceitar, é que não há respostas para todas perguntas. Pelo menos não há respostas que minha humanidade compreenda.
   Não me consolo, não aceito, pois não sou capaz de compreender. Por isso, procuro viver pensando que as respostas que eu não tenho são muito mais do que mero "desejo" divino, são de fato respostas que não tenho, não terei e que não devo busca-las desesperadamente como tenho feito em alguns momentos da minha vida. Devo seguir vivendo, amando, confiando, entendendo que há coisas que não posso mesmo compreender.

Da série: Ensinamentos da Mariana - Diferenças

23 maio 2011

Aconteceu nessa sexta-feira (19/05/2011) um fato que me fez pensar muito sobre muitas coisas. Eu conto pra vocês.

Quando chegamos na escola para buscar a Mariana, lá estava a professora Marcela nos esperando na porta da escola para nos contar uma história. Segundo a professora, estavam todos na aula de natação. Ao sair da piscina pra voltar pra escola, havia uma menina esperando para entrar na água. Essa menina tem algum tipo de necessidade especial que a deixa com o rosto um tanto desfigurado. A medida que as crianças iam passando por ela, notava-se que olhavam a menina com um certo expanto. A Mariana então resolveu parar pra falar com a menina e disse: "o teu rosto é assim mesmo?" (nessa hora a professora já começou a se preparar para intervir se preciso). A menina respondeu: "sim". A Mariana então disse: "eu te acho linda assim mesmo".

Me emocionei muito com a história e fiquei um tanto orgulhoso da minha filha, mas depois fiquei pensando o que aquilo poderia me ensinar. O que eu poderia tirar desse episódio para modificar minhas ações e o que penso sobre algumas coisas.

Fiquei aqui pensando por que, afinal, uma atitude como essa é tão "anormal", a ponto de ficarmos tão felizes e tão espantados com essa atitude da Mariana? Percebam que conversamos com ela sobre o fato e ela nos contou a situação com a maior normalidade, quase não entendendo porque tanta repercussão daquilo que, pra ela, era uma atitude normal, comum.

Sabemos que os preconceitos (de qualquer ordem) não são impostos às pessoas diretamente, mas nos pequenos gestos e atitudes cotidianas que vão construindo conceitos e idéias, que nos parecem sólidos, corretos e até indiscutíveis, exatamente porque gestados devagar e solidamente.

Desde pequenos, e assim fazemos com nossos filhos, aprendemos que mentir é FEIO, roubar é FEIO, os vilões dos desenhos animados são FEIOS, bater nos outros é FEIO, etc. Em contrapartida, se comportar é BONITO, ser bem educado é BONITO, estudar é BONITO, trabalhar é BONITO, ser honesto é BONITO, as princesas e os heróis são BONITOS, amar é BONITO. Não é difícil entender que aprendemos a relacionar que tudo que é bom é bonito e tudo que é ruim é feio. Rapidamente poderíamos então dizer que o que nos parece bonito é bom e o que nos parece feio é ruim. É assim que fazemos a maioria das nossas escolhas. Procuramos uma mulher/homem bonita/o para casar. Compramos um carro bonito. Uma casa bonita. Um sapato bonito. Porém, esquecemos (muitas vezes) de procurar antes da beleza a essência (que chamamos, não por acaso, de "beleza interior"). Pensando assim, casamentos são desfeitos todos os dias, pois o homem/mulher deixa de ser bonito com o tempo. Pensando assim compramos coisas que não usamos ou que não servem exatamente para o que queremos usar, porque queríamos algo bonito e não apenas funcional. Pensando assim as mulheres (principalmente) passam o dia inteiro com os pés cheios de bolhas e doídos, porque o sapato é muito desconfortável, mas é bonito e está na moda.

Alguns dizem por aí que "a primeira impressão é a que fica". Discordo! Creio que a primeira impressão é a que desvela nossos preconceitos, é a que traz a tona tudo aquilo que aprendemos a diagnosticar entre bonito e feio. Por isso, creio que preciso fazer força para ultrapassar a primeira impressão e dispensar o juízo do feio e do belo para que, de fato, entenda a beleza da essência e da humanidade dos que me cercam.

P.S.: tenho recebido reclamações de pessoas que não conseguem comentar no blog. É muito fácil. Tenta aí. Primeiro clica aqui abaixo do texto em "Comente aqui", depois vai abrir uma janela para que escreva o comentário. Logo abaixo escolha a opção "NOME/URL". Escreva seu nome e clique em "publicar comentário". Pronto!

As Mães e o Amor de Deus

02 maio 2011


Deus amou tanto a humanidade,
que escolheu entre nós alguém
para representar esse amor.
O nome dessa pessoa?
Mãe!

São palavras singelas, mas que definem bem  tudo aquilo que representa pra mim a figura da mãe. Fundamentalmente, três delas fizeram (e fazem) muita diferença na minha vida, pois foram capazes de mostrar o caminho de Deus e o caminho do amor.

Minha vó Ceni e minha mãe Sandra (as duas já falecidas), fazem parte da imensa maioria das imagens que ainda guardo da minha infância e adolescência. Nos momentos bons e nos momentos ruins, pelo menos uma delas se faz presente na minha memória. São lembranças do afago, da reprimenda, dos micos que me fizeram passar, do carinho, do cuidado, do amor.

A terceira, porém não menos importante, é a mãe da minha filha, a Clarissa. Com ela aprendi coisas novas, pois agora estou "assistindo a cena" a partir de outro referencial, o que me proporcionou conhecer minha mãe e minha vó seguindo de premissas diferenciadas, as quais eu não conhecia quando era apenas filho.

Desejo a todas as mães e a todos os filhos que vivam esse amor, que é Deus, segundo essa perspectiva, pois assim certamente seremos capazes também de amar como Ele.

26 de Abril

26 abril 2011


Amigos, 26 de abril é um dia muito importante para a história da humanidade, não é mesmo? Não sabem por quê? Prestem bem atenção no que aconteceu nessa data na nossa história e descubram.

ALGUNS FATOS RELEVANTES ACONTECIDOS EM 26 DE ABRIL

  121 - Nasce Marco Aurélio, imperador romano
1500 - Primeira missa celebrada no Brasil
1564 - William Shakespeare foi batizado na Igreja da Santa Trindade de Stratford
1648 - Nasce Dom Pedro II - Rei de Portugal
1798 - Nasce Eugène Delacroix - pintor francês
1889 - Nasce Ludwig Wittgenstein - filósofo
1903 - Fundação do clube de futebol Atlético de Madrid
1916 - Nasce Morris West - escritor
1933 - Fundação da Gestapo
1937 - Guernica foi bombardeada pela Luftwaffe Alemã (imagem acima do quadro Guernica, de Pablo Picasso)
1937 - Nasce Manga, goleiro campeão brasileiro pelo Internacional de Porto Alegre
1964 - Tanganica e Zanzibar fundiram para formar a Tanzânia
1965 - Fundação da TV Globo
1973 - Assinado o Tratado de Itaipu por Brasil e Paraguai
1976 - Nasce em Pelotas, na Beneficência Portuguesa, Luís Felipe Pino Schuch Colvara
1984 - Votação da emenda que visava a efetivação das eleições diretas no Brasil
1986 - Ocorre o acidente nuclear em Chernobyl
1992 - Inauguração oficial da ECO-92, no Rio
1994 - Primeiras eleições multirraciais na África do Sul

Descobriram?

Racismo, homofobia e outros absurdos

01 abril 2011

Obviamente que a imensa maioria dos brasileiros já teve acesso às declarações absurdas do Deputado Federal (PP/RJ) Jair Bolsonaro. Pois bem, eu quero falar sobre o que ele diz, mas quero falar também do que, na minha opinião, é ainda pior, da quantidade de racistas e homofóbicos que, encorajados pelas declarações do deputado, sentiram-se legitimados a sair do anonimato e demonstrar todo o seu ódio.

Vejam que vivemos em uma sociedade que ainda escraviza e que continua expulsando seus filhos e filhas de casa por conta de sua condição sexual. Não se surpreendam, pois não são poucos os que ainda ensinam seus filhos a atitudes racistas e preconceituosas como se fossem normais e naturais. Infelizmente, os negros ainda são tratados como subseres. Ainda vinculamos a cor da pele à criminalidade, promiscuidade à homosexualismo, tarefas domésticas à mulher, etc.

Eu tenho algumas opiniões sobre essas questões que quero dividir com vocês. Eu acredito que, inclusive, algumas tentativas de amenizar a discriminação, hoje são utilizadas no sentido diametralmente oposto (com o perdão da redundância) ao pretendido. Exemplo disso é o vocábulo politicamente correto afrodescendente. Chamar um negro de afrodescendente, passou a ser uma forma legítima de manter discursos racistas. Para mim, temos apenas uma raça, a raça humana. Por qual motivo preciso a todo momento indicar quem tem qual cor de pele? Só faço isso para discriminar, para separar. Somos homens e mulheres, humanos.

Outro exemplo é a utilização da expressão "opção sexual". Convenhamos, alguém acredita mesmo que alguém em sã consciência faria a "opção" em ser homosexual? Não consigo compreender isso. Quem gostaria de optar pelo sofrimento. Sim, pois os homosexuais sofrem o tempo todo. Sofrem a rejeição da família, são maltratadas na escola, nas relações de trabalho. Sofrem violência física, violência verbal. Sofrem quando seus amigos contam piadinhas, quando seus pais demonstram vergonha pela condição do filho. Pelo amor de Deus, ninguém escolhe ser homosexual. As pessoas são homosexuais e pronto. É uma condição e não uma opção. Enquanto continuarmos utilizando a expressão "opção sexual", continuaremos dando vazão a essa possibilidade das pessoas legitimarem suas atitudes homofóbicas com o argumento de "não incentivar as crianças a se tornarem homosexuais". Infelizmente ainda existem pessoas (muitas) que acreditam nisso.

Chega de racismo, chega de homofobia, chega de discriminação, chega de preconceito.

O que vocês acham?

Porto Alegre do meu coração

23 março 2011


Nessa semana (26/03) Porto Alegre comemora seus 239 anos. O Porto do Viamão, que foi Porto do Dorneles, Porto de São Francisco dos Casais ou Porto dos Casais e depois freguesia Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre. Talvez por essa mania Portoalegrense de abreviar tudo, tenha virado apenas Porto Alegre.

Porto Alegre é a minha cidade do coração, já que sou natural de Pelotas. Porto Alegre da minha alegria, da minha história, dos meus amores, dos meus frutos, da minha vida. Porto Alegre da brisa suave da beira do rio, das manhãs de domingo passando um mate na grama verde da Redenção, do grito de gol no Beira-Rio, do chopp gelado nas calçadas da Cidade Baixa, da vida agitada da Rua da Praia.

Minha cidade tem o cheiro da poluição dos carros do Centro, mas tem também o ar puro do Morro do Osso. Minha cidade de concreto e a frieza dos prédios é também capaz de mostrar a beleza do pôr-do-sol do Guaíba. Minha cidade é assim: um misto de feiura e beleza, alegria e tristeza.

Porto Alegre das minhas alegrias, das minha angústias, dos meus amores, das minhas cores. Feliz Aniversário minha Porto Alegre!

Obs.: a foto acima foi tirada por mim da sacada do prédio onde trabalho em uma noite fria e chuvosa. Na foto a prefeitura e, ao fundo, o mercado público.

Solidariedade cotidiana. Onde anda?

16 março 2011

É comovente como as pessoas aqui no Rio Grande do Sul têm se mobilizado para ajudar as vítimas da enchente ocorrida em São Lourenço do Sul. Realmente é bonito ver as pessoas entrando em suas casas e buscando aquelas coisas que podem não estar sendo tão necessárias pra elas, mas que podem ser fundamentais para aqueles que perderam tudo. Penso que a solidariedade está muito relacionada a esse sentimento que nos impulsiona a querer partilhar com os outros. Para isso, não há necessariamente a imposição de uma doação de cunho patrimonial. Não creio que seja assim, apenas. É possível ser solidário, nesses casos, mesmo sem ter condições financeiras de ajudar. Posso dar um sorriso, um abraço, estender a mão para levantar uma parede, ajudar a limpar a casa cheia de lama. Na verdade, a solidariedade não é apenas uma questão de doar algo, mas também pode ser "apenas" doar-se.

Esses momentos de comoção geral, gerados principalmente pelo tamanho da catástrofe e da repercussão pública através dos meios de comunicação, geram na população em geral esse "espírito solidário", pois somos capazes de nos colocar no lugar do outro. Porém, tenho me perguntado qual a razão de ainda sermos indiferentes às catástrofes cotidianas, às quais nos deparamos inúmeras vezes durante nosso dia. O menino no sinal pedindo uma moeda para comer. O homem que dorme na calçada fria, coberto com papelão para espantar o frio.

Somos capazes de nos solidarizar com aqueles que estão longe com enorme facilidade, mas temos uma enorme dificuldade de compreender a necessidade daquele que está próximo. Criamos teses estranhas para justificar nossa indiferença. Dizemos que o menino no sinal quer dinheiro pra comprar droga, ou que está sendo usado pelos pais que não querem trabalhar ou apenas porque querem dinheiro para comprar cachaça. Reclamamos que o homem que dorme na calçada fede e que, por certo, é vagabundo ou até perigoso e pode nos assaltar. Por isso andamos longe deles. Vejam que as justificativas em alguns casos são até racionais e coerentes, mas apenas nos desviam do fundamental. A verdade é que por algum motivo estamos (sociedade) negligenciando aqueles que são iguais a nós. Sim, iguais a nós! Homens e mulheres que não tem direito de ser gente, de ser cidadão, de ser digno de consideração como ser humano. São subseres que vagam por nossas cidades. Ensinamos as nossos crianças a atravessarem a rua quando tem um por perto e de sentirem medo quando "um deles" se aproxima de nós.

A solidariedade na distância é relativamente fácil, mas a solidariedade cotidiana, essa sim é complicada de ser vivida. O desafio pra mim hoje é conseguir exercitar a solidariedade cotidiana. E vocês, o que pensam sobre isso?

Quero viver já! Por que deixar pra depois?

22 fevereiro 2011


Ontem assisti ao filme que passava na televisão a noite. Um filme totalmente despretensioso, até divertido, mas que não chega nem perto de ser considerado uma grande obra de arte digna de merecer um Óscar. Porém, a mensagem trazida no filme me interessa bastante. É por conta dela que posto aqui. Antes que eu me esqueça, o nome do filme é "as férias da minha vida".

O filme trata de uma pessoa que, ao descobrir que tem pouco tempo de vida, resolve viver tudo aquilo que não teve coragem de viver durante toda a sua vida.

Fiquei pensando por que temos medo de ser o que somos. Por que temos medo de viver nossos sonhos. Por que temos medo da felicidade, de busca-la, de correr ao seu encontro. Afinal, é isso que fazemos, não é? Morremos de medo de dizer o que pensamos, de parecermos loucos e inconsequentes. Vivemos em um sistema rígido de regras que se tornam pra nós cláusulas pétreas talvez desde o ventre de nossas mães, o que depois reproduzimos quando nós somos os pais: preciso ser comportado, preciso ser o melhor, preciso ser competente, preciso me formar, preciso de um "bom emprego", preciso de estabilidade financeira, preciso parecer ser tudo isso, preciso "ter sucesso". Ser feliz é secundário, desde que eu tenho "sucesso" (alguém sabe o que isso realmente significa?).

Quem inventou que sucesso é ter uma casa grande, um carro novo e um cartão de crédito sem limite? Quem definiu que pra ter sucesso é preciso TER tudo o que se deseja? Será que o beijo filho, o carinho da mãe ao cobri-lo de noite, o colo do pai para chorar uma queda, não é sucesso? O amor de uma familia não é sucesso? Estender a mão ao amigo ou mesmo apontar-lhe o dedo quando necessário não é sucesso? Deitar a cabeça no travesseiro, respirar fundo e lembrar que vivi o dia em plenitude, que amei em plenitude, que trabalhei com honestidade, que brinquei com meu filho, não é sucesso?

Não é a toa que figurões acabam a vida amargurados e tristes, ou mesmo, literalmente, acabam com sua vida, quem sabe para abreviar o seu sofrimento. Não é a toa que filhos abandonam os pais idosos, que pais não permitem que seus filhos nasçam, que famílias se desfaçam. Talvez isso aconteça por não entenderem o significado da palavra sucesso.

Todos os dias vemos as pessoas adiarem suas vidas. Não posso casar porque não tenho dinheiro suficiente. Não posso ter filhos porque são caros. Não posso tirar férias com a família, pois preciso ganhar mais dinheiro. Infelizmente, pelo o que tenho visto, o objetivo de ganhar dinheiro é ter mais dinheiro. O dinheiro deixou de ser um meio e passou a ser um fim. Portanto, deixo de ir ao cinema com minha esposa porque preciso ganhar mais dinheiro, deixo de levar meu filho no parque porque perco tempo de ganhar mais dinheiro, deixo de ter uma família porque está atrapalhando os negócios. Quem sabe, mais tarde, quando conseguir "me estabilizar" eu possa desacelerar, curtir os filhos, viajar. Quem sabe depois de me aposentar eu possa relaxar. Engano! Não existe o momento "estável", sempre quero mais e mais. Não existirá mais curtição com os filhos, pois eles já arrumaram outro jeito de "curtir".

Quero viver agora! Quero SER agora! Já! Quero rolar no chão com minha filha hoje, rir sem saber porquê daqui a um minuto! Quero amar minha esposa o tempo todo, não posso esperar pra depois, pra algum dia! Quero abraçar meus amigos, rir com eles, chorar com eles, amar com eles já! Quero fazer o que gosto, me alegrar com os frutos do meu trabalho porque acredito que posso! Quero viver a vida do meu jeito e não da forma que os outros esperam ou desejam! Quero ser feliz! Quero ter sucesso!

E vocês, o que acham?

Síndrome Gre-Nal

15 fevereiro 2011



Li essa semana um trecho de um texto do Dom Dadeus que trata da Síndrome Gre-Nal, o qual transcrevo abaixo.

É difícil situar-se no justo meio termo. Os radicalismos são sempre incisivos. Sentimos fortemente a síndrome do Gre-Nal. Não se consegue pacificamente ser a favor de um sem posicionar-se com igual força contra o outro. Então se calcula a alegria e a tristeza, o amor ou o ódio, por percentagens: alguém 50% gremista é consequentemente também 50% anticolorado e vice-versa. Isto vale na política, no relacionamento humano em geral.”

Sempre tive essa sensação também, mas o pior é que a síndrome não está relacionada exclusivamente ao futebol e isso preocupa. Aqui no Rio Grande do Sul esse tipo de pensamento maniqueísta é muito evidente.

Na política, temos apenas duas possibilidades: ou és do PT ou és antiPT. É simples de entender, mas as consequências são devastadoras. O problema maior, na minha opinião, não é o eleitor pensar assim, mas os próprios agentes políticos se determinarem por essa convicção. Os governantes governam sob a égide da síndrome GreNal. Os opositores fazem oposição com essa mensalidade. Quem perde? Nós, cidadãos, que ficamos em meio a essa falsa contraposição de bem e mal. Felizmente, aos poucos, estamos entendendo, principalmente através da experiência nacional, que há bem e mal em todos os partidos. Que existem bons e maus políticos em todos os partidos. Que há boas e más políticas em todos os governos. Só nos falta entender que fazer oposição não significa torcer para que o governo afunde (assim como torcemos para que o "coirmão" seja derrotado), mas significa fiscalizar e até denunciar as práticas do governo para que o bem maior (bem-comum) seja preservado. Será que será possível desvincular a política da síndrome?

Nas nossas relações cotidianas não é diferente. Não são raras as vezes que se utiliza a máxima: "se não é meu amigo é meu inimigo". Assim, fomentamos o ódio, a violência, o preconceito. Assim fazemos com a cor da pele, com a condição sexual, etc. A síndrome GreNal nas relação humanas indica que não somos capazes de conviver com a diferença, de conviver com a opinião diversa da nossa, que não suportamos que a nossa opinião não seja a "verdade". Assim, maltratamos os que não pensam como nós, subjugamos aqueles que não têm a mesma cor da nossa pele, ridicularizamos os que não têm a mesma condição sexual que a nossa. Ódio, ódio e ódio. Assim, vivemos as nossas vidas imaginando a fantasia que temos as respostas corretas e caminhamos nos caminhos certos, enquanto "os outros", por não caminharem conosco, estão errados. Por que, afinal, não podemos ter mais de um caminho para o bem? Por que não somos capazes de entender que as pessoas podem ser felizes fazendo as coisas de modo diverso do que fazemos?

Espero a partir de agora limitar a minha doença (síndrome) às quatro linhas. E vocês?

Devaneios da Língua Portuguesa II

03 fevereiro 2011



    Era uma tarde de muito calor. Na sala de espera do consultório da Dra. GRAMÁTICA, estavam todos sentados em silêncio. Constrangida, a ONOMATOPEIA se inclinou na direção da HIPÉRBOLE e disse:
    — Psiu! Viste a prova do líder ontem?
    — Claro! Morri de aflição. Eles quase se mataram pela liderança. Respondeu a HIPÉRBOLE.
    — É verdade. Um deles quase foi desta para uma melhor! Interveio o EUFEMISMO.
    A CATACRESE, interessada no assunto, veio sentar-se mais próximo do grupo para participar da conversa.
    — Pois é, no momento em que ele colocou o dente de alho entre os dentes, deve ter sentido uma ardência danada no céu da boca.
    — Quem? O Baixinho ou o Gordo? Perguntou a ANTONOMÁSIA.
    — Não sei, mas o Brasil votou e tirou ele da disputa. Respondeu a PROSOPOPEIA.
    Nesse instante, a ORTOGRAFIA, secretária da Dra. GRAMÁTICA, entrou na sala e, rapidamente, a ONOMATOPEIA, ao colocar o indicador na frente dos lábios, encerrou o assunto com um “Shhhh!”.