Pilotando novas amizades

26 outubro 2010



No último domingo vivenciei uma experiência diferente. Fui auxiliar meu irmão na direção de provas de automodelismo em Portão. Estava meio receoso em ficar o dia inteiro olhando aqueles "carrinhos". Porém, como o Guto sempre falava do local e das pessoas, eu resolvi aceitar o convite.

É claro que o lugar é realmente maravilhoso, que as corridas são muito divertidas, que tudo é muito organizado, mas o que eu quero comentar não é sobre as corridas ou sobre os carros; quero comentar sobre as pessoas, sobre a forma com que se relacionam, a forma como me receberam.

Fiquei muito impressionado com a forma com que as pessoas que estavam envolvidas nas provas se relacionam. Em primeiro lugar, fui muito bem recebido por todos. Sabemos que grupos que se conhecem a bastante tempo e convivem muito tempo juntos, por vezes acabam sendo muito fechados e avessos a que pessoas estranhas ao seu mundo "invadam" o seu espaço. Lá não, todos me receberam como se eu fosse um velho conhecido.

Interessante observar que tudo se desenvolve em um ambiente muito familiar. Quando digo familiar, quero dizer que são as famílias mesmo que estão trabalhando juntas. Pais e filhos, esposos e esposas, namorados e namoradas, sendo que, da mistura dessas famílias todas, se constroi uma única família, com divergências, algumas discordâncias, como toda a família, mas, na maioria do tempo, em harmonia.

O mais interessante é que todos se ajudam. Por vezes alguém deixa de trabalhar no seu carro pra ajudar algum outro que está com um problema mais difícil de resolver. Um deles é piloto profissional, mas, ao contrário do que muitos poderiam imaginar, ele ajuda todo mundo a acertar melhor o seu carro, dá dicas, "bota a mão na massa". Ou seja, o importante não é chegar em primeiro lugar, mas que todos tenham condições de participar e se divertir. Claro que é um competição amadora e a maioria lá não vive disso, mas ainda assim competição é sempre competição.

Enfim, esse pessoal forma uma turma muito legal. Já conversei com a Clarissa e falei pra ela que, assim que der, eu quero levar ela e a Mariana pra conhecer o lugar e as pessoas.

As 33 sementes do Atacama

14 outubro 2010


Há 70 dias a esperança, a fé, a compaixão, a solidariedade, a fraternidade, o amor, foram semeados no solo árido do deserto de Atacama. Trinta e três sementes de amor, que por 69 dias foram aos poucos cativando os corações do mundo inteiro. O que parecia ser tragédia, acaba por se transformar em milagre de amor.

Para alguns mais um reality show, para mim uma demonstração clara da capacidade do amor humano e do amor divino trabalhando juntos na obra da criação de uma nova percepção do homem na escala da evolução. Os 33 do Atacama encerram a era do Homo Sapiens e celebram o nascimento do Homo Solidarietatis. Depois desse episódio a característica principal do homem deixa de ser a sapiência e passa a ser a solidariedade.

Solidariedade desses seis homens que estão na foto, capazes de enfrentar a incerteza do resgate e se colocar como vítimas, fazendo o caminho inverso da idéia do resgate, saindo do conforto da superfície movidos pela vontade de salvar outros soterrados na escuridão. Homens capazes de entregar a sua vida pela vida de outros homens. Como dizia a linda música da Ziza: "não existe amor maior / que a coragem de dizer / que um dia, se preciso for / dou minha vida por você".

As 33 sementes do Atacama floresceram nos corações do mundo inteiro e nos ensinaram o verdadeiro sentido do amor e a descoberta de uma nova humanidade, baseada na solidariedade, na compaixão, na fé, na esperança, no amor. Que esse jardim alegre continue gerando frutos para toda a eternidade.

Eleições (des)proporcionais

06 outubro 2010


Amigos,

Mais uma eleição nas nossas vidas. A festa da democracia, como dizem muitos. Tenho lá minhas dúvidas, mas tudo bem. A questão que tenho conversado com muita gente nessa semana é o nosso sistema para as eleições proporcionais, que costumo chemar de eleições (des)proporcionais. Um sistema capaz de eleger deputados federais com menos de mil votos, como no último pleito em que o Enéas levou meia-dúzia de "sabe-se-lá-quem-são" para a Câmara Federal. Esse ano fala-se muito no Tiririca, sua suposta "falta de estudo" e aqueles que, se aproveitando de seus votos, acabaram por ser eleitos.

No Rio Grande do Sul não é diferente. Manuela e o seu "e aí, beleza!" conquistaram quase meio milhão de votos, que foram capazes de eleger para a Câmara de Deputados um cidadão com pouco mais de 28 mil votos, enquanto candidados como Luciana Genro, por exemplo, com quase 130 mil votos, ficaram de fora. Aí eu pergunto: como explicar pra minha filha de 3 anos que a candidata que recebeu 130 mil votos não se elegeu, enquanto o que recebeu 30 mil está lá na lista de eleitos? Como farão as professoras primárias para explicar que matemática é uma ciência exata, se terão que explicar que 30 mil é mais que 130 mil? Como explicar que a escolha dos nossos representantes se dá pela vontade do povo através do voto? Será que a vontade daqueles 30 mil são mais valiosas que a vontade dos outros 130 mil? Será que aqueles que votaram na Manuela queriam votar também naquele outro candidato? Pois foi isso que fizeram ao votar na candidata da sua preferência. Como farei pra explicar aos meus amigos que me perguntam (pelo fato de eu ser advogado e supostamente saber interpretar as leis) o que significa o que está no parágrafo único do artigo 1º da Constituição da República, quando diz: "Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos"? Era vontade do povo eleger um deputado federal com 28 mil votos e não eleger um deputado federal com 130 mil votos? Não sei mais o que dizer. Estou muito confuso com isso.

O pior de tudo é que não dá pra esperar que isso mude tão cedo, pois aqueles que fazem as leis são exatamente os mesmos que se beneficiam desse sistema totalmente desproporcional.

Socorro! Alguém me ajude!