20 ANOS DE AMOR

11 novembro 2013



    Amanhã eu e a Clarissa completamos 20 anos de namoro. Uma marca um tanto quanto significativa em dias em que as pessoas iniciam seus relacionamentos com ideias como: "vamos ver no que dá"; "quero alguém que ME faça feliz"; etc.
    Ultimamente tenho conversado muito sobre isso. Sobre os relacionamentos, as causas dos fracassos, ou os efeitos de um início com bases líquidas, para usar a palavra tão bem escolhida por Bauman. As pessoas não têm interesse em construir laços de amor humano, pois assim não sofrem, assim facilitam a sua vida, já que é mais fácil descartar o outro que atrapalha a sua vida. Claro que estou generalizando, me entendam, mas o importante é que quando digo para as pessoas que estamos juntos há 20 anos, grande parte delas se surpreende, outras duvidam e algumas ainda imaginam o quão tristes e frustrados devemos ser por conta disso. Infelizmente, grande parte das pessoas acredita que uma relação de amor entre duas pessoas (excetuando as de pais e filhos) não é possível. Muitos acreditam verdadeiramente que as pessoas não tem vocação para estarem juntas, pelo menos não por muito tempo. Há aqueles que crêem que o amor é possível apenas durante um tempo e que depois ele simplesmente termina.
    Quando começamos a praticar um esporte, primeiro fazemos exames médicos, depois um condicionamento físico, depois começar os treinamentos técnicos, aprimorar fudamentos, para só então, com o corpo e a mente devidamente estruturados e preparados, praticar o esporte com qualidade. No amor, guardadas as devidas proporções, não é muito diferente. Precisamos de uma série de treinamentos antes de partir pra um relacionamento amoroso. Primeiro conhecemos a pessoa, passamos a encontra-la, conversamos, conhecemos um mínimo de sua personalidade, sua história de vida, de seus familiares. Aí então começamos a namorar, vem uma maior intimidade, passamos a frequentar a casa e a conhecer melhor as famílias, falamos sobre nossos sonhos para o futuro, construímos sonhos comuns, alimentamos esses sonhos e então passamos a praticar o esporte, ou seja, passamos a viver juntos, casamos, como queiram.
    O problema é que a cultura do consumismo que se instalou no mundo, vale também para os relacionamentos humanos. Tudo é descartável. Tudo é efêmero. Tudo é rapidamente superado por uma nova versão e vira logo lixo. Assim também nos relacionamentos.
    Por isso eu quero celebrar muito esses 20 anos desde que começamos a namorar. Não pensem que a nossa vida é um mar de rosas. Não. Temos problemas, dificuldades, brigamos, discutimos, nos desacertamos. Assim é a vida e é no desacerto que colhemos os melhores frutos. É na dificuldade que somos capazes de nos unir e procurar soluções comuns.
    É assim que acredito no amor. Assim somos capazes de nos amar durante tanto tempo. O amor não se prova num dia de sol, com muito dinheiro no bolso e um sorriso no rosto. O amor é construído nos dias escuros, chuvosos. O amor é algo que se constroi no caminho e como diz a música: "amor verdadeiro é querer amar".
   Por isso, depois de 20 anos o que desejo é que consigamos continuar querendo nos amar, assim como fizemos durante esse tempo. Que Deus nos abençoe e nos conceda a graça de estarmos sempre unidos em seu amor.
    Clarissa, meu amor. Feliz aniversário de namoro! TE AMO PRA SEMPRE!!!
 

Bodas de Aço

28 setembro 2013


   Hoje (28/09) nós celebramos 11 anos de casados. 
   Consultando a internet, vi que com onze anos de casamento, celebramos Bodas de Aço. Interessante a reflexão que podemos fazer em relação a isso.
   O aço é uma liga metálica formada essencialmente por ferro e carbono, portanto, poderíamos imaginar que é um casamento entre ferro e carbono. Mas vejamos: é uma liga metálica. No nosso caso, o que dá a liga é Deus, tornando o nosso casamento uma liga amorosa.
   Há algumas características bem interessantes do aço que também me parecem características do nosso casamento: resistência, ductibilidade e dureza.
   Resistência, pois com o passar dos anos, certamente os espinhos crescem e se multiplicam. As dificuldades da vida vão nos minando. O processo cotidiano de casal, tende a nos pressionar pelo caminho do cansaço, nos empurrando na direção da intolerância. Porém, baseamos o nosso casamento nessa liga amorosa que nos une em Deus. E se assim somos capazes de vivenciar o amor conjugal, certamente o que poderia ser um problema - o tempo - se torna um aliado, uma espécie de barril de carvalho do amor, sedimentando o amor através dos anos, separando o amor e deixando de lado os excessos.
   Ductibilidade, ou seja, deformável, maleável. Um casamento que não tem essa característica, fatalmente terá problemas. A vida conjugal pressupõe renúncias, entrega, eu diria até serviço. Não há possibilidade de felicidade conjugal se não há a clara intenção de dar-se por primeiro. Se buscarmos isso e se for um objetivo mútuo, dificilmente não conseguiremos êxito no casamento. Esse êxito também é chamado de felicidade. Portanto, a capacidade de conformar-se, de dar forma ao casamento com o outro e ser capaz de alterar a própria forma na direção de uma forma única, do casal, é uma das chaves para um casamento feliz.
   Dureza, ou seja, solidez. Solidez de propósito, solidez de objetivos de vida, solidez de fé. A dureza pode ser avaliada pela capacidade de um material penetrar o outro. Eu diria que um casamento pode ser avaliado pela capacidade de cada um do casal penetrar a vida do outro, até que os dois já não sejam apenas indivíduos, mas que constituam uma identidade nova, uma identidade de casal.
   Peço a Deus que consigamos, eu e a Clarissa, o dom da resistência, da ductibilidade e da dureza no nosso casamento, para que sejamos capazes de enfrentar juntos os desafios da vida, transformando um ao outro a partir do nosso sim, para formar uma união ainda mais sólida e coesa, caminhando juntos amparados por Deus.
   Nunca canso de lembrar de uma música que pra mim diz muito do que a Clarissa tem sido pra mim nesses anos:

   você me faz capaz / quando já não posso mais
   você me faz voar / quando não posso mais andar
   seu amor me faz seguir / quando nem sei por onde ir
   quando penso que estou só / ouço seus passos

   Feliz aniversário meu amor!

Quer terminar com a corrupção? Vá até o espelho então...

02 julho 2013



   Nesses últimos tempos, fala-se muito a respeito dos políticos corruptos. As pessoas foram às ruas, em massa, pedir o fim da impunidade, a condenação dos políticos corruptos no Brasil, a inclusão da corrupção no rol dos crimes hediondos. Tudo isso entendo como uma petição justa, mas creio que precisamos ir ainda mais além. Precisamos compreender a origem desse comportamento que parece tão “aceitável” no nosso país.
   É isso mesmo! No Brasil a corrupção é uma atitude aceitável, em todos os níveis da sociedade. Discordas disso? Então te convido a fazer uma visitinha ao espelho. Te convido a mergulhar na tua vida e investigar no mais fundo das tuas crenças, investigar o mais profundo dos teus valores, experimentar retroceder no tempo e nos fatos da tua vida. Ali está, provavelmente, a raiz do comportamento das pessoas que se corrompem com qualquer tipo de poder.
   Se quisermos eliminar a corrupção da política, primeiro precisamos eliminá-la do nosso cotidiano. A corrupção está instalada nas nossas vidas. No nosso dia-a-dia. Todos os dias, cometemos pequenas transgressões que nos parecem aceitáveis. Afinal, precisamos resolver o “nosso problema”. Os outros que se virem pra resolver o seu.
   Coisas simples, pequenas, quase insignificantes. Burlar a fila do banco; utilizar o banco reservado para idosos no ônibus e fingir estar dormindo quando percebe um idoso de pé; tentar acessar a rua lateral ultrapassando todos os carros da fila que se formou e entrar lá na frente; jogar papel no chão já que não sou eu que limpo; não devolver o troco a mais que o caixa me deu de forma equivocada; “puxar o tapete” do colega de trabalho para ter mais chance de conseguir aquela promoção; etc.
   A cultura da acomodação, da justificação do injustificável, também conhecida como jeitinho brasileiro é a mola propulsora da corrupção brasileira. Como já falei no post anterior, o tamanho da corrupção, me parece, está relacionada fundamentalmente à oportunidade que se apresenta. Ou seja, se sou capaz de me justificar nas pequenas transgressões, tenho uma chance enorme de encontrar justificativas para as grandes corrupções. No Brasil, infelizmente, ainda entendemos a pessoa que age com correção como se fosse bobo, ingênuo e por vezes burro. “O mundo é dos espertos”. Não é isso que muitos enchem a boca pra dizer quando se justificam nas suas pequenas transgressões? Não é essa a mensagem que nos é passada diariamente nas novelas, por exemplo, tão queridas do povo e tão seguida pela maioria que as consomem desesperadamente?

   Pois bem, é isso que eu penso. Colocar a “culpa” da corrupção dos políticos em algo externo à nossa própria conduta, pra mim é um grande absurdo. Creio que a minha conduta cotidiana concorre diretamente para a possibilidade de termos mais ou menos corrupção no Brasil.
   E o que tu achas disso?

Reflexões sobre os protestos no Brasil

19 junho 2013


   Depois de muito tempo sem escrever nada, resolvi retomar esse hábito depois das manifestações que estão ocorrendo pelo Brasil. Não tenho ideia do tamanho do texto que vou produzir, pois estou apenas começando a escrever, mas tenho quase certeza que será bem extenso. Portanto, me perdoem desde já pelo tamanho do texto.
   São vários os aspectos que creio são importantes para a reflexão e pretendo trabalhar a maioria deles por aqui.
   Pra mim o mais importante das recentes manifestações não é o que poderá produzir em termos concretos nas possíveis reduções de tarifas ou outras atitudes que os governantes possam tomar na tentativa de estancar os protestos. Na verdade, o mais importante nisso tudo é o despertar da cidadania brasileira. Estávamos estagnados na mesmice, no conformismo cotidiano. Cada vez mais ouvíamos a frase “não gosto de política” como se isso fosse uma coisa boa, desejável. Ficávamos anestesiados discutindo a novela, aprendendo com ela como de fato os maus cidadãos, os maus seres humanos eram mesmo mais interessantes, os que mais conquistavam as coisas, enquanto os quase abobados “mocinhos” levavam porrada da vida dia após dia. As pessoas acreditaram que aquilo era verdade e se acostumaram com a ideia de que não podíamos fazer nada em contrário, já que “o mundo é assim”.
   Para aqueles que me dizem não gostar de política, eu sempre recomendo retirar-se para as montanhas e viver como um verdadeiro eremita, pois não é possível viver em sociedade, conviver com outros seres humanos, sem estar permanentemente envolvido com a política. E falo de todo o tipo de política, pra ficar claro, falo também da política partidária. Claro que fica mais fácil falar mal dos políticos e se manter bem longe da política partidária, pois aí o argumento inclusive se fortalece. Porém, está muito claro que o não envolvimento com ela só traz benefício para aqueles que se utilizam dela para aniquilar o interesse público e se aproveitar do que é de todos em benefício próprio. É necessário compreendermos que se é esse o sistema posto, se é a partir da política partidária que se dá a representação da população, é a partir dela que essa mesma população deve construir a sua “revolução”.
   Um ponto importante é tentar compreender o que tem acontecido, pois tenho visto muita gente tentando compreender as manifestações que estão ocorrendo, conforme os referenciais construídos em tempos passados. Quero crer que isso não é mais possível. O fenômeno das redes sociais modificou toda a compreensão de movimentos sociais “organizados”. Em outros momentos, identificávamos uma CAUSA de protestar, um SEGMENTO da sociedade e LIDERANÇAS identificadas. Nenhuma dessas premissas é mais possível identificar. Com o fenômeno das redes sociais, os movimentos de protesto são pulverizados em suas causas, pois as pessoas vão aderindo a ideia central de protestar, mas carregam o seu propósito pessoal de manifestação, pois as redes sociais pressupõem diversidade de segmentos, sejam eles socioculturais, econômicos, profissionais, etc. Por essa pulverização de articulação, fica também prejudicada a identificação de lideranças, pois a partir do primeiro retweet ou compartilhar, perde-se a identidade da autoria da mobilização. Portanto, creio que essa mobilização não necessita de força política para conseguir aprovar isso ou aquilo, para derrubar esse ou aquele, pois ela se presta fundamentalmente para fazer as pessoas acordarem para a possibilidade de ser protagonista da vida em sociedade.
   Isso tudo, para ter consequência, deve ser capaz de fazer nascer em nós algumas reflexões importantes. Coisas como por exemplo: como posso protestar contra a corrupção, se sou capaz de realizar pequenas infrações diariamente? Se a corrupção é pequena ou maior, me parece que depende fundamentalmente da oportunidade que se apresenta. Se sou capaz de encontrar um justificativa para “pequenas corrupções cotidianas”, serei mesmo capaz das grandes corrupções se tiver oportunidade. Precisamos parar de imaginar que as pequenas infrações podem ser toleradas; preciso levar mais a sério a política, participar das discussões, procurar buscar informações, votar com consciência, por acreditar no projeto e depois ser capaz de cobrar as promessas e não reconduzir aqueles que não cumprem seus projetos de campanha. Se preciso for, participar ativamente da política partidária, sem aceitar “a vida fácil” dos “oportunidades” que se colocam a nossa frente quando estamos envolvidos nesse processo. Sermos capazes de retomar o valor do interesse público, valor esse quase  esquecido por todos, já que o individualismo, o consumismo exacerbado, a busca da satisfação pessoal a qualquer custo, nos distanciam cada vez mais desse valor.
   Poderia escrever mais, mas vou deixar para os próximos posts. O importante é dizer que isso tudo faz parte do nosso dever de cidadão. Na verdade, para aqueles que, como eu, se identificam como cristãos, esse dever é ainda mais importante. Lembro aqui o que disse o nosso querido Papa Francisco: “Envolver-se na política é uma obrigação para um cristão. Nós, os cristãos, não podemos fazer de Pilatos e lavar as mãos, não podemos! Temos de nos meter na política, porque a política é uma das formas mais altas de caridade, porque busca o bem comum. Os leigos cristãos devem trabalhar na política. A política está muito suja, mas eu pergunto: está suja porquê? Porque os cristãos não se meteram nela com espírito evangélico? (..) É fácil dizer que a culpa é dos outros. Mas eu, o que eu faço? Isto é um dever! Trabalhar para o bem comum é um dever do cristão.” E para aqueles que não são cristãos, vale a pena alterar no texto do Papa a palavra cristão por cidadão que a mensagem continua verdadeira.

   Manifestem-se!

Vó Celeste - testemunho de amor

20 abril 2013


    Sabe, eu já aprendi que tenho uma certa dificuldade de me expressar, de dizer o que sinto de forma verbal. Como diz a minha esposa, por vezes parece que sou até antipático. Pois bem, aprendi também que escrevendo eu sou capaz de me expressar e dizer o que penso e o que sinto. Por isso resolvi fazer a minha homenagem à Vó Celeste por aqui.
    Hoje ela nos deixou. Foi de volta para os braços do pai viver aquilo que o seu nome profético já indicava:  viver a vida Celeste. Viver a vida eterna e seguir cuidando daqueles que tanto amou nesses 99 anos de vida bem vivida.
    A Bisa (é assim que é tratada aqui em casa, por conta da Mariana) foi uma mulher de fibra, de garra, de amor a vida, que deu tudo de si pelos outros, não viveu preconceitos, não viveu grandes ambições a não ser a de acumular pessoas ao seu redor.
    A Vó Celeste (e eu peço licença para chama-la de vó, pois é assim que ela sempre me tratou, como  neto) inspirou tantas pessoas a serem felizes. Inspirou as pessoas a buscarem amor. Inspirou as pessoas a viver o melhor da vida e viver tudo ao lado de sua família, perto daqueles que sempre serão amados, não importando o que façam, o que conquistem ou o sucesso ou insucesso nas suas vidas. Isso não importava pra ela, pois pra ela o que valia a pena nas pessoas não tinha nada a ver com o que elas possuiam, o seu status social, sua cor, gênero ou qualquer outra coisa que nos divida e nos desvie do essencial: a nossa capacidade de ser gente, de amar, de errar e acertar, de ser humano.
    Não tenho dúvida que a Vó Celeste amou a humanidade e viu no humano a beleza de viver a vida amando as pessoas. No seu jeito simples, nas palavras ditas de forma errada para entreter seus amados, com sua mão maravilhosa na cozinha, que foi uma das formas de expressar esse amor para as pessoas.
    A Vó Celeste cuidou de cada um que cruzou o seu caminho como se fosse seus filhos e tenho certeza que provavelmente ainda nos próximos 99 anos ainda estará nos dando lições de humanidade e de amor.
    Peço a Deus hoje que receba a Vó Celeste na sua casa e que inspire os seus que por aqui ficaram para que reflitam profundamente sobre a vida da Vó Celeste e compreendam o testemunho de vida que ela deixou pra nós.
    Vó Celeste. Obrigado por passar por minha vida e me ensinar tanta coisa maravilhosa.

Os Croods e a Páscoa

27 março 2013



    Parece estranho o título do post, eu entendo, mas de fato foi essa a reflexão que fiz quando assisti ontem o filme Os Croods. É um filme infantil - como tantos que tenho visto com minha filha nos últimos anos - que traz tanta coisa interessante, que vale uma reflexão aqui no blog. Aparentemente um filme de aventura e comédia infantil. Uma família pré-histórica que nos dá ensinamentos preciosos ao longo do filme.
    Inicialmente identifica-se a filha adolescente do casal como a personagem principal do filme, mas aos poucos vê-se que, na verdade, o grande personagem é o pai. Uma família que vive no escuro de uma caverna, sobrevivendo através do medo, sem esperança ou mesmo qualquer perspectiva de propósito. Isso até a filha adolescente, fascinada pela luz e pela inquietação pela inexistência de explicação para o propósito da vida, resolver desrespeitar as regras que até ali os mantinham vivos. Conhece um humano um pouco diferente, não tão forte fisicamente, mas que conhece algo até ali desconhecido pra ela: o fogo. Um viajante solitário que viaja fugindo do fim do mundo, em busca de algo que ele chama de "o amanhã". De fato a sua profecia se cumpre e o mundo que eles conhecem vai desaparecendo, sua caverna é destruída e um mundo todo novo se apresenta a esta família, conduzida por esse jovem rapaz, pelo desconhecido, em busca da sobrevivência.
    O pai continua procurando uma nova caverna para que possa manter sua família na escuridão e no medo, mas viva. O grande acontecimento do filme se dá aparentemente na periferia do filme, mas pra mim é o ponto central da história: a transformação do pai.
   Num dado momento, o pai compreende a necessidade de propósito que sua filha tanto buscou e decide se entregar a essa busca. É a partir desse momento que encontro a relação com a páscoa.
    O pai, num momento de grande turbulência, tem a chance de decidir buscar uma nova caverna, que poderia garantir a sobrevivência de sua família na escuridão e no medo, mas ousa querer mais que isso para os que ama. Ele quer que eles sejam felizes. Quer que eles "vejam o amanhã". Quer que eles sejam capazes de viver a esperança de um mundo melhor. Porém, para isso é necessário um sacrifício e ele então entrega a sua vida para que sua família, seus amigos e até os que aparentemente eram seus inimigos fossem salvos, fossem capazes de contemplar a face do "amanhã". Se alegra com a confirmação de que todos conseguiram se salvar e, mesmo quase soterrado numa caverna, se alegra ao imaginar cada um deles sendo feliz. Após um tempo de muita tristeza daqueles que ele salvou, imaginando que ele estava morto, ele ressurge, vivo e pronto para viver ao lado deles uma vida nova, não mais na escuridão e no medo, mas na alegria de viver a esperança e o amor.
    Isso é Páscoa, não é mesmo?
 
P.S.: comentar esse post é simples: clique aqui abaixo, onde diz "Comente aqui". Digite o texto do comentário na caixa que abrirá. Logo abaixo da caixa, clique no item que diz "Nome/URL", digite seu nome e clique no botão "Publicar comentário". Pronto!

Renúncia, exercício do amor.

27 fevereiro 2013


    Estive pensando sobre a renúncia do Papa Bento XVI. Tentando compreender o significado disso tudo. A conclusão que cheguei é que este sem sombra de dúvidas é o grande legado que o Papa nos deixa. Essa é a sua catequese: a renúncia. Muito se falava que este era o Papa da intelectualidade, da teoria, mas é na prática que ele deixa o seu maior ensinamento. A marca de seu pontificado sem dúvida não será o que escreveu, mas seu testemunho de vida.
    Renúncia é uma palavra tão pouco invocada no discurso contemporâneo. Talvez esse seja o momento perfeito para chamá-la de volta ao convívio cotidiano. Compreender o seu sentido e a sua repercussão na vida de cada um e toda a humanidade.
    Falamos muito no amor, que amamos isso ou aquilo. Infelizmente o amor anda meio banal, no sentido mais insignificante da palavra. Provavelmente a banalização do sentido do amor se dá porque não compreendemos o amor como renúncia. Sim, amor é renúncia. Nos dias de hoje as pessoas não estão dispostas a dar o passo na direção da renúncia. A vaidade e um certo narcisismo endêmico, o qual somos levados a acreditar ser o caminho da felicidade, nos distanciam passo a passo do exercício da renúncia e, consequentemente, do exercício do amor.
    É esse talvez o motivo de cada vez mais as pessoas preferirem relacionar-se com seus animais de estimação ao invés de construirem uma família, por exemplo. Prefere-se um cachoro ou um gato ao invés de um filho. As pessoas não estão dispostas a renunciar seus pequenos prazeres ou seus planos de realizações pessoais em favor de outra pessoa. Não estamos dispostos a renunciar algumas noites de sono, a viagem preparada para as férias, o carro novo ou a possibilidade de ser "livre" para fazer o que bem entender. A mentalidade do homem do século XXI está na firme direção da satisfação dos desejos pessoais. Ou seja, sou feliz quanto tenho MEUS desejos satisfeitos. Ocorre que esta mentalidade não dialoga em nenhum momento com a lógica do amor. Já escrevi uma vez sobre isso, quando refleti sobre o filme Na Natureza Selvagem. Vai o link desse texto: http://blogorreiadesvairada.blogspot.com.br/2010/01/felicidade-so-e-verdadeira-quando.html.
    O amor necessariamente impõe o sentido inverso. A lógica do amor está na direção do outro. Renuncio o meu em favor do outro. Renuncio o meu prazer em favor do prazer do outro. Renuncio o meu sono em favor do sono do filho. Renuncio meus projetos em favor do outro. Parece radical? Pois eu digo, é de fato radical. Amar é extremamente radical. Amar é o exercício diário da renúncia. Amar é entregar-se ao outro sem reservas, sem esperar o troco. Me dou por completo sem reivindicar o retorno.
    É necessário que a humanidade compreenda esse ensinamento do Papa. É necessário que a humanidade caminhe na direção da renúncia, na direção do amor.


P.S.: muitos continuam com dificuldades de comentar no blog, por isso estou colocando essa observação no final de cada post. É simples: clique aqui abaixo, onde diz "Comente aqui". Digite o texto do comentário na caixa que abrirá. Logo abaixo da caixa, clique no item que diz "Nome/URL", digite seu nome e clique no botão "Publicar comentário". Pronto!

Da série Reflexões no Cinema: Detona Ralph

17 janeiro 2013


    Como vocês sabem, sou pai de uma menininha de 5 anos. Por esse motivo, sou levado a assistir os filmes de animação em cartaz nos cinemas. Confesso que eu gosto. Ultimamente, num gesto de solidariedade aos pais dos pequenos, que são obrigados a assistir esse tipo de filme, os estúdios têm incluído cenas próprias para os adultos, piadinhas que só nós entendemos e mensagens realmente importantes, tanto para os pequenos como para nós adultos.
    Assim foi no último filme que assisti no cinema (duas vezes), o filme Detona Ralph. Um filme bem interessante para quem foi adolescente na década de 80/90 e que frequentava o fliperama, mas isso é um detalhe que não nos interessa aqui. Nesse espaço eu quero falar sobre alguns temas que ficaram bem claros pra mim como mensagem importante desse filme, tanto para os pequenos, quanto pra nós adultos.
    A primeira delas, que não necessariamente é a mais importante, trata da máxima "quem vê cara não vê coração". Ou seja, como somos levados a fazer julgamentos antecipados das pessoas que nos rodeiam a partir da sua aparência, do seu estilo de vida, da sua posição profissional (ou da sua não-posição profissional). Não raras vezes a "primeira impressão é a que fica" e fica como uma imensa barreira a impedir qualquer tipo de aproximação, ou se permitida a aproximação, esta se dá balizada por conceitos criados no momento da "primeira vista". Esse tipo de atitude por vezes nos distancia de alguém realmente interessante.
    O filme também suscita um enfrentamento pessoal parecido com o exposto no parágrafo anterior. Vejam que se é verdade que fazemos julgamentos apressados dos outros o tempo inteiro, fazemos também julgamentos severos e superficiais de nós mesmos. Não são poucas as vezes que nos pegamos menosprezando aquilo que somos e aquilo que temos, baseados em algo que admiramos no outro ou na vida do outro. Esquecemos de olhar pra dentro de nós, de investigar o mais profundo de nós mesmos. Esquecemos de apreciar nossas vidas e nossas conquistas cotidianas. Esquecemos de olhar para o que fazemos e para o que nos tornamos, compreendendo a importância que temos na engrenagem que move as vidas de todos nós e extraindo dali a beleza daquilo que normalmente entendemos banal. Por vezes fazemos as nossas tarefas diárias como uma pena, uma obrigação que pesa, mas esquecemos que podemos realiza-las compreendendo-as como missão. A verdade é que sempre é mais fácil identificar os nossos defeitos, as nossas tristezas, os nossos fracassos, do que encontrar a beleza cotidiana que nos visita e que insistimos em bater a porta e deixa-la de fora.
    Por fim, e não menos importante, o filme demonstra que o homem nasceu para relacionar-se com os outros homens. A humanidade só é plena no convívio e a felicidade só é possível no amor. No amor próprio, mas, fundamentalmente, no amor que somos capazes de entregar ao outro. Não importa o que eu consiga conquistar, aonde eu consiga chegar, lá não haverá felicidade se não for compartilhada. É no amor que sou capaz de dar que habita a felicidade. A felicidade não está no amor que recebo, mas no amor que sou capaz de entregar ao outro. É nesse amor, é nesse momento, que tudo que é excesso, que é supérfluo, se dissipa, perde o valor e só o que é essência tem lugar. Esse é o lugar da felicidade.
P.S.: muitos continuam com dificuldades de comentar no blog, por isso estou colocando essa observação no final de cada post. É simples: clique aqui abaixo, onde diz "Comente aqui". Digite o texto do comentário na caixa que abrirá. Logo abaixo da caixa, clique no item que diz "Nome/URL", digite seu nome e clique no botão "Publicar comentário". Pronto!