O diálogo em extinção

14 fevereiro 2012

Fico pensando por qual motivo as pessoas têm deixado de lado o diálogo, o debate, a discussão de ideias, a argumentação, a conversa. Tenho visto que as pessoas tem se relacionado com os outros através do "curtir" ou de míseros 140 caracteres. Isso basta? Creio que não.

Como é possível discutir ideias, argumentar, debater, compreender o que o outro diz, fazer-se compreender, dessa forma? Pra mim é impensável o relacionamento humano sem o olhar, sem o toque e sem a palavra. É na palavra que conseguimos infundir a nossa intenção. A ideia precisa das demoras do debate, do argumento, da discussão. Os relacionamentos também são assim. Como construir uma amizade sem o debate? Sem ser capaz de dizer ao outro como o vejo, o que me faz bem e o que me faz mal? Vivemos a era da amizade efêmera, uma tipo de amizade líquida, aproveitando a ideia de Bauman. Nada é feito para durar, tudo é efêmero, tudo é breve, inclusive os argumentos.

A questão é que na liquidez das amizades, realmente tudo parece mais fácil. Tenho tempo de pensar na resposta. Posso dizer qualquer coisa, pois não tenho o compromisso do olhar. Posso simplesmente deixar pra lá e não dizer mais nada, afinal, a conexão caiu. Porém, não nos enganemos, pois na liquidez do diálogo, a solidez das amizades desaparece e as amizades duradouras se acabam por vaidades bobas. Se não sou capaz de questinar meu amigo sobre suas atitudes, sobre supostas coisas que disse e que me machucaram, abraça-lo nas conquistas, chorar junto dele nas derrotas, não sou capaz de vivenciar um relacionamento realmente maduro e duradouro. O que me interessa, nesse caso, não é me relacionar com o outro, mas que o outro seja capaz de satisfazer as minhas necessidades. Se não há diálogo, não há argumento, não há confronto, não existe amizade sólida. Só existe espaço para o amor líquido, que rapidamente escore entre os dedos e se acaba.

Será que não é importante pensarmos nisso?

4 Comente aqui:

Ricardo Hillesheim disse...
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Joel disse...
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Anônimo disse...

Nossa... Muito bom este texto. E são poucos os textos que me interessa lê-los até o final. Relata perfeitamente não só as amizades, como os namoros de hoje. Onde nos falta os argumentos e nos sobram os "curtir". Parabéns

Felipe Colvara disse...

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