Quero viver já! Por que deixar pra depois?

22 fevereiro 2011


Ontem assisti ao filme que passava na televisão a noite. Um filme totalmente despretensioso, até divertido, mas que não chega nem perto de ser considerado uma grande obra de arte digna de merecer um Óscar. Porém, a mensagem trazida no filme me interessa bastante. É por conta dela que posto aqui. Antes que eu me esqueça, o nome do filme é "as férias da minha vida".

O filme trata de uma pessoa que, ao descobrir que tem pouco tempo de vida, resolve viver tudo aquilo que não teve coragem de viver durante toda a sua vida.

Fiquei pensando por que temos medo de ser o que somos. Por que temos medo de viver nossos sonhos. Por que temos medo da felicidade, de busca-la, de correr ao seu encontro. Afinal, é isso que fazemos, não é? Morremos de medo de dizer o que pensamos, de parecermos loucos e inconsequentes. Vivemos em um sistema rígido de regras que se tornam pra nós cláusulas pétreas talvez desde o ventre de nossas mães, o que depois reproduzimos quando nós somos os pais: preciso ser comportado, preciso ser o melhor, preciso ser competente, preciso me formar, preciso de um "bom emprego", preciso de estabilidade financeira, preciso parecer ser tudo isso, preciso "ter sucesso". Ser feliz é secundário, desde que eu tenho "sucesso" (alguém sabe o que isso realmente significa?).

Quem inventou que sucesso é ter uma casa grande, um carro novo e um cartão de crédito sem limite? Quem definiu que pra ter sucesso é preciso TER tudo o que se deseja? Será que o beijo filho, o carinho da mãe ao cobri-lo de noite, o colo do pai para chorar uma queda, não é sucesso? O amor de uma familia não é sucesso? Estender a mão ao amigo ou mesmo apontar-lhe o dedo quando necessário não é sucesso? Deitar a cabeça no travesseiro, respirar fundo e lembrar que vivi o dia em plenitude, que amei em plenitude, que trabalhei com honestidade, que brinquei com meu filho, não é sucesso?

Não é a toa que figurões acabam a vida amargurados e tristes, ou mesmo, literalmente, acabam com sua vida, quem sabe para abreviar o seu sofrimento. Não é a toa que filhos abandonam os pais idosos, que pais não permitem que seus filhos nasçam, que famílias se desfaçam. Talvez isso aconteça por não entenderem o significado da palavra sucesso.

Todos os dias vemos as pessoas adiarem suas vidas. Não posso casar porque não tenho dinheiro suficiente. Não posso ter filhos porque são caros. Não posso tirar férias com a família, pois preciso ganhar mais dinheiro. Infelizmente, pelo o que tenho visto, o objetivo de ganhar dinheiro é ter mais dinheiro. O dinheiro deixou de ser um meio e passou a ser um fim. Portanto, deixo de ir ao cinema com minha esposa porque preciso ganhar mais dinheiro, deixo de levar meu filho no parque porque perco tempo de ganhar mais dinheiro, deixo de ter uma família porque está atrapalhando os negócios. Quem sabe, mais tarde, quando conseguir "me estabilizar" eu possa desacelerar, curtir os filhos, viajar. Quem sabe depois de me aposentar eu possa relaxar. Engano! Não existe o momento "estável", sempre quero mais e mais. Não existirá mais curtição com os filhos, pois eles já arrumaram outro jeito de "curtir".

Quero viver agora! Quero SER agora! Já! Quero rolar no chão com minha filha hoje, rir sem saber porquê daqui a um minuto! Quero amar minha esposa o tempo todo, não posso esperar pra depois, pra algum dia! Quero abraçar meus amigos, rir com eles, chorar com eles, amar com eles já! Quero fazer o que gosto, me alegrar com os frutos do meu trabalho porque acredito que posso! Quero viver a vida do meu jeito e não da forma que os outros esperam ou desejam! Quero ser feliz! Quero ter sucesso!

E vocês, o que acham?

Síndrome Gre-Nal

15 fevereiro 2011



Li essa semana um trecho de um texto do Dom Dadeus que trata da Síndrome Gre-Nal, o qual transcrevo abaixo.

É difícil situar-se no justo meio termo. Os radicalismos são sempre incisivos. Sentimos fortemente a síndrome do Gre-Nal. Não se consegue pacificamente ser a favor de um sem posicionar-se com igual força contra o outro. Então se calcula a alegria e a tristeza, o amor ou o ódio, por percentagens: alguém 50% gremista é consequentemente também 50% anticolorado e vice-versa. Isto vale na política, no relacionamento humano em geral.”

Sempre tive essa sensação também, mas o pior é que a síndrome não está relacionada exclusivamente ao futebol e isso preocupa. Aqui no Rio Grande do Sul esse tipo de pensamento maniqueísta é muito evidente.

Na política, temos apenas duas possibilidades: ou és do PT ou és antiPT. É simples de entender, mas as consequências são devastadoras. O problema maior, na minha opinião, não é o eleitor pensar assim, mas os próprios agentes políticos se determinarem por essa convicção. Os governantes governam sob a égide da síndrome GreNal. Os opositores fazem oposição com essa mensalidade. Quem perde? Nós, cidadãos, que ficamos em meio a essa falsa contraposição de bem e mal. Felizmente, aos poucos, estamos entendendo, principalmente através da experiência nacional, que há bem e mal em todos os partidos. Que existem bons e maus políticos em todos os partidos. Que há boas e más políticas em todos os governos. Só nos falta entender que fazer oposição não significa torcer para que o governo afunde (assim como torcemos para que o "coirmão" seja derrotado), mas significa fiscalizar e até denunciar as práticas do governo para que o bem maior (bem-comum) seja preservado. Será que será possível desvincular a política da síndrome?

Nas nossas relações cotidianas não é diferente. Não são raras as vezes que se utiliza a máxima: "se não é meu amigo é meu inimigo". Assim, fomentamos o ódio, a violência, o preconceito. Assim fazemos com a cor da pele, com a condição sexual, etc. A síndrome GreNal nas relação humanas indica que não somos capazes de conviver com a diferença, de conviver com a opinião diversa da nossa, que não suportamos que a nossa opinião não seja a "verdade". Assim, maltratamos os que não pensam como nós, subjugamos aqueles que não têm a mesma cor da nossa pele, ridicularizamos os que não têm a mesma condição sexual que a nossa. Ódio, ódio e ódio. Assim, vivemos as nossas vidas imaginando a fantasia que temos as respostas corretas e caminhamos nos caminhos certos, enquanto "os outros", por não caminharem conosco, estão errados. Por que, afinal, não podemos ter mais de um caminho para o bem? Por que não somos capazes de entender que as pessoas podem ser felizes fazendo as coisas de modo diverso do que fazemos?

Espero a partir de agora limitar a minha doença (síndrome) às quatro linhas. E vocês?

Devaneios da Língua Portuguesa II

03 fevereiro 2011



    Era uma tarde de muito calor. Na sala de espera do consultório da Dra. GRAMÁTICA, estavam todos sentados em silêncio. Constrangida, a ONOMATOPEIA se inclinou na direção da HIPÉRBOLE e disse:
    — Psiu! Viste a prova do líder ontem?
    — Claro! Morri de aflição. Eles quase se mataram pela liderança. Respondeu a HIPÉRBOLE.
    — É verdade. Um deles quase foi desta para uma melhor! Interveio o EUFEMISMO.
    A CATACRESE, interessada no assunto, veio sentar-se mais próximo do grupo para participar da conversa.
    — Pois é, no momento em que ele colocou o dente de alho entre os dentes, deve ter sentido uma ardência danada no céu da boca.
    — Quem? O Baixinho ou o Gordo? Perguntou a ANTONOMÁSIA.
    — Não sei, mas o Brasil votou e tirou ele da disputa. Respondeu a PROSOPOPEIA.
    Nesse instante, a ORTOGRAFIA, secretária da Dra. GRAMÁTICA, entrou na sala e, rapidamente, a ONOMATOPEIA, ao colocar o indicador na frente dos lábios, encerrou o assunto com um “Shhhh!”.