Relacões em 140 caracteres

31 agosto 2011


Tenho pensado muito sobre esse tema. Fala-se muito nas maravilhas das redes sociais e de como as pessoas se encontram/reencontram através delas. Realmente é verdade. Nos encontramos/reencontramos com muita gente. Pessoas que conhecemos bem, outras nem tanto. Grandes amigos de infância e outros que mal sabemos o nome. A minha pergunta é quão amigos são os nossos "amigos" do Facebook, por exemplo? Como começar ou mesmo manter uma amizade em 140 caracteres?

Quanto mais avançamos no uso das redes sociais (virtuais), menos participamos das redes sociais (presenciais), ou seja, menos nos relacionamos com as pessoas em sua intimidade, no toque, olhando no olho, abraçando, chorando junto, rindo junto, apenas conversando sobre qualquer coisa ou mesmo sem falar nada. Esse relacionamento verdadeiro (o presencial) anda meio perdido, meio dora de moda. A gente "ganha" mais tempo mandando um SMS, "curtindo" uma frase deixada no "Face" ou respondendo alguma coisa em míseros 140 caracteres no twitter. Não é assim?

As pessoas têm dito que as redes sociais têm exposto a vida das pessoas. Eu penso diferente. Pra mim, as redes sociais são mais um escudo. Ali podemos escrever qualquer coisa, sem mostrar o tom de voz, o rubor da face, a lágrima, o sorriso, nada. São frases estéreis, sem conteúdo emocional, sem a força da intenção, sem a fraqueza/fortaleza do olhar. São apenas palavras jogadas ao vento, que podem ser compreendidas, ou não, pelos que as leem. Ninguém consegue falar do que pensa, dos seus sentimentos, de sua vida em 140 caracteres, pelo menos não consegue fazer isso em profundidade. Essa é minha preocupação. As relações humanas têm se dado em apenas 140 caracteres, rasas, sem profundidade, sem compreensão. São relações construídas sobre a areia e não sobre a rocha (se me permitem parafrasear o evangelho de Mateus).

É claro que gosto de utilizar o twitter e o facebook, como muitos sabem, mas o que quero dizer hoje é que essas ferramentas não podem ser substitutas do abraço, do toque, da conversa olho-no-olho, da partilha de vida que se dá "convivendo fisicamente". Uso e continuarei usando essas ferramentas, assim como uso o blog (ainda bem que tenho mais de 140 caracteres pra escrever aqui), mas tenham certeza que os meus amigos eu quero estar perto, quero abraçar, quero olhar seus olhos, quero chorar/rir junto, quero partilhar a minha vida e meus sentimentos segurando suas mãos.

José: exemplo para os pais

08 agosto 2011


   Esse ano a minha homenagem aos pais vai ser um pouco diferente. Fui convidado para falar para o grupo do acampamento sobre paternidade, relacionando com o exemplo de São José. Por conta disso, acabei pensando muito sobre São José e sobre o seu exemplo, o que gostaria de partilhar com vocês, deixando aqui como homenagem a todos os pais.
   Me desculpo desde logo pelo tamanho do texto, mas, como elaborei isso para falar, acabou ficando um pouco mais extenso do que normalmente escrevo aqui no blog. De qualquer forma, vou tentar resumir o máximo.
   Eu nunca parei para pensar seriamente sobre o testemunho de pai de São José, só fazendo isso agora, pois fui provocado pelo pessoal do acamps. Logo de cara me deparei com algo que achei muito interessante: estava diante da história de um homem que é conhecido no mundo inteiro sem ter deixado uma palavra sequer, ou alguém lembra de algo dito por ele? José é um homem conhecido tão somente por seu comportamento.
   José não é um santo conhecido por suas pregações, por feitos extraordinários ou por ser um mártir. José foi apenas um homem comum, esposo, pai, trabalhador. Um homem calado, quase apagado pela história, que talvez tenha como sua maior virtude a de ser "apenas" um homem comum. Um homem capaz de amar, de confiar, de servir, de acreditar. Nada de extraordinário, sem grandes poderes, sem uma força descomunal, nada. Era apenas gente comum.
   Sempre que penso em José, lembro daquela cena linda e feliz que costumamos reproduzir em nossas casas na época do Natal: o presépio. Foi aí que comecei a pensar como foi que chegamos até ali.
   Primeiro, veio o conhecimento da gravidez de Maria. José acolheu, confiou. José nos deu ali o que resolvi chamar de ensinamento silencioso, já que não fez isso por palavras, mas como fruto de seu comportamento. Ensinou a não culpar, não julgar. Mesmo sem compreender direito o que estava acontecendo, não culpa, não julga, mas confia, acolhe.
   Depois, José precisa pegar Maria, grávida, e partir. Ao chegar ao seu destino, precisa encontrar um lugar para o seu filho nascer. Bate de porta em porta e ninguém os acolhe. Consegue apenas uma estrebaria para sua esposa dar a luz. Aqui fiquei lembrando de quando a Clarissa estava grávida. Nossos planos, a forma que arrumamos o seu quarto, escolhemos o berço, as roupinhas, os brinquedos. Fiquei pensando que José, como um carpinteiro, deve ter feito tanta coisa com suas próprias mãos. O berço, alguns brinquedos. Tudo com tanto amor, tanto cuidado, mas ele não poderia colocar seu filho naquele berço, teria que dar um jeito na estrebaria. Imagino que deve ter trabalhado bastante para deixar aquele lugar um pouco mais confortável para Maria e para seu filho que chegava. Mais um ensinamento silencioso de José: o do serviço. O serviço que não recebe elogios, não espera reconhecimento, não lamenta as dificuldades, mas fica feliz por poder fazer alguma coisa.
   Quando tudo parece calmo, os dois estão ali contemplando seu filho, felizes, José precisa novamente partir, pois querem matar o menino. Ele protamente se levanta e segue para um lugar desconhecido. Sem comida, sem dinheiro, sem as ferramentas para exercer sua profissão, mas sempre lutando para preservar sua família. Então, novamente destaco seu ensinamento silencioso: serenidade e determinação. A capacidade de recomeçar, de não desanimar, de não deixar de acreditar, de não perder a confiança.
   Não sabemos exatamente como foi José como pai, não há relatos dessa convivência com seu filho, mas o entendimento dos fatos que conhecemos me dá a certeza que José foi um homem capaz de educar seu filho pelo caminho do amor. Um homem que não culpa, não julga, que confia, que acolhe, que serve, não lamenta as dificuldades, é sereno, determinado, capaz de recomeçar, de não desanimar, de acreditar.
   Ao perceber os ensinamentos de José, compreendemos que o que fez foi amar, foi educar seu filho pelo caminho do amor. Lembram daquela definição de amor que encontramos lá na primeira carta de São Paulo aos Coríntios, está lá em I Cor 13, 4-7. Diz assim: o amor é paciente, é benfazejo; não é invejoso, não é presunçoso nem se incha de orgulho; não faz nada de vergonhoso, não é interesseiro, não se encoleiriza, não leva em conta o mal sofrido; não se alegra com a injustiça, mas fica alegre com a verdade. Ele desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo. Não é exatamente o que fez José na sua trajetória como pai?
   Como pai, sei que preciso dar o exemplo, pois as crianças aprendem, fundamentalmente, através do exemplo, o que não é fácil, pois aí conhecemos aquela parte de nós que não gostaríamos de encontrar em qualquer esquina. Através da Mariana, tenho aprendido muito mais sobre mim do que sobre ela. Todo o dia a Mariana mostra as minhas fragilidades e boa parte das vezes me indica o caminho para supera-las. Uma vez aqui na blog escrevi que os filhos são um espelho para os pais. De fato, tenho me visto nesse espelho e descoberto muita coisa bonita que não reconhecia no espelho do meu banheiro, mas também tenho aprendido a reconhecer e trabalhar as imperfeições que refletem dele.
   Por tudo isso, convido a todos os pais, junto comigo, a mirar o exemplo de José para que possamos seguir ao lado de nossos filhos no caminho do amor, assim como fez José.
   FELIZ DIA DOS PAIS!

Da série: Ensinamentos da Mariana - Entendimentos

01 agosto 2011


   Semana passada, estávamos no carro pela manhã, como fazemos todos os dias, para levar a Mariana para a casa dos avós, onde fica pela manhã antes de ir pra escola. Me lembro ela falando que tinha duas vovós. Ela dizia assim: "pai, eu tenho duas vovós. A mãe da minha mãe e a mãe do meu pai". Momentos depois ela me pergunta: "pai, a tua mãe ainda tá no céu?". Eu respondi de pronto: "sim". Daí ela respondeu: "então eu acho que ela morreu. Porque quando as pessoas morrem, elas vão pro céu".
   Eu sempre falei da minha mãe pra Mariana, desde quando ela nasceu. Sem pre quis que ela tivesse, mesmo que através da minha experiência, uma identificação com a sua avó. Acho triste uma criança não poder se relacionar com a avó. Pelo menos pra mim, sempre foi uma experiência muito rica, especialmente com a minha avó materna, com a qual tive uma experiência mais próxima, mas também com a minha avó paterna, que, mesmo mais de longe, sempre tive aquele sentimento que ali tenho um "colo de plantão", alguém em quem posso confiar e que sempre estará a postos para me ouvir e me ajudar.
   Queria que a Mariana tivesse uma imagem da avó dela. Que soubesse que foi uma mãe maravilhosa, uma avó zelosa (apesar de pouco tempo, "fez das tripas coração" para ajudar meu irmão e estar sempre a disposição pra cuidar da Julia). E como cuidou. E como amou aquela neta.
   Creio que consegui pelo menos que ela tenha um registro dessa avó. Ela sabe o seu nome, tem curiosidade em ver as fotos e por vezes falamos de coisas da Mariana que se parecem com ela.
   Tinha um tempo em que a Mariana me pedia pra visitar a avó. Ela não entendia porque não podia estar com ela, mas acabava aceitando o fato que ela estava longe, lá no céu. Nas noites de lua minguante, a Mariana sempre que via a lua se dirigia a mim dizendo: "pai, olha lá a lua! Eu acho que é a unha da tua mãe!"
   Sempre evitei falar em morte para a Mariana. Na verdade não sabia bem como explicar isso pra ela, mas agora acho que entendi que não preciso pensar tanto em teorias elaboradas para que ela entenda certas coisas. Ela simplesmente entende "do jeito dela", como ela mesmo gosta de falar. Sei que ela não entende exatamente o significado da morte, mas não importa, ela entende que as pessoas morrem, que não se fazem mais presentes e isso acontece porque estão no céu. Isso já basta pra ela por ora.
   É maravilhoso ver como a Mariana cresce e se desenvolve e é maravilhoso ver que a Mariana é capaz de se interessar e demonstrar carinho pela avó que nem mesmo conheceu. Fico feliz como pai e como filho, pois sei que minha mãe também a conhece, a ama e está intercedendo fortemente por ela "lá por cima".