Bodas de Linho ou Renda

28 setembro 2015



   Em 28 de setembro de 2002 nós nos casamos. Celebramos nesse dia esse sacramento que nos é muito caro. Levamos até a presença de Deus o nosso amor, para transformá-lo, para fazer dele sinal do amor de Deus nas nossas vidas, para unidos a Ele sermos um e juntos (os três) construirmos a nossa família.
   Hoje completamos 13 anos desse sim e eu costumo sempre procurar a lista das Bodas para refletir sobre como estamos vivendo esse sacramento e como o projetamos no nosso futuro. Portanto, hoje celebramos as Bodas de Linho ou Renda.
   Como o linho, nosso amor se dá bem em solo profundo, fresco e permeável a água, ou seja, a construção daquilo que somos como casal se dá de forma profunda dentro de nós, não é uma manifestação externa, superficial, mas é construído no profundo do que nós somos. É preciso o frescor de cada nascer de dia para que ele desabroche novamente, o frescor dos momentos, dos olhares, das palavras, dos gestos, sendo importante manter esse solo permeável ao amor de Deus. É necessário no nosso matrimônio essa abundância de Deus, sob pena de não sermos mais um. Interessante como o matrimônio traz essa metáfora da trindade em seu significado. No matrimônio, somos um sendo três e na falta de qualquer dos três, a unidade se esvai.
   A renda, por sua vez, é um tecido transparente, de malha aberta, que forma desenhos variados com o entrelaçamento dos fios. A renda se compõe basicamente de dois elementos: o desenho em si e o fundo, que mantém o desenho unido. Ora, assim somos nós, transparentes em nossa forma de viver a unidade do matrimônio, somos um e somos abertos um ao outro, nos conhecemos e nos abrimos um ao outro para que cada um conheça do outro as suas misérias mais profundas, mas que também desfrute daquilo de mais precioso que Deus deixou em cada um de nós. O entrelaçamento daquilo que somos, da individualidade de cada um gera o desenho que faz de nós uma unidade e que ao somar o que cada um é individualmente, forma o motivo que faz de nós um casal. O fundo que nos mantém unidos é Deus. Sem Deus, temos clareza que os fios não teriam capacidade de se manter unidos.

   Que nós tenhamos também a clareza de compreender a necessidade de construir novos desenhos e novas cores na nossa vida, mas sempre mantendo a unidade em Deus. Parabéns Clarissa pelo aniversário do nosso matrimônio. Que Deus continue nos abençoando. Te amo.

Não quero ver a cena

04 setembro 2015


   Ontem a cena me gerou muitas reações. Primeiro eu não queria ver, olhava de canto de olho. Quando alguém compartilhava a tal cena eu corria a tela pra não ver. A cena em si não era tão chocante a primeira vista, mas o conteúdo que ela trazia não me fazia aceitar a sua existência. Eu confesso que até agora não tive coragem de ler nada, não vi os noticiários na televisão, não li nenhuma reportagem sobre o assunto. Não quero saber mais daquilo que já estou careca de saber. Não quero me reconhecer nesse mundo que vivo e não quero me reconhecer nas atitudes que os seres humanos, iguais a mim, são capazes para satisfazer suas próprias vontades e impor aquilo que acreditam ser verdades.
     É disso que estamos tratando, não se enganem! Isso não é um fato distante. Não tem nada a ver com o que os outros fazem. Não está lá na longínqua Síria. Não é culpa de uma religião. Não é responsabilidade de um punhado de malucos. Isso tem a ver comigo e contigo. Isso é diretamente relacionado ao nosso comportamento cotidiano, esse comportamento que nos coloca de frente com o nosso próprio umbigo, que me faz imaginar que o mundo se resume a mim mesmo e as possibilidades acerca do meu “sucesso”, daquilo que eu posso ter, dos prazeres que eu possa experimentar, do tanto dinheiro que eu possa gastar comigo mesmo e com meus desejos. Eu e você somos os criadores desse mundo violento, sim! Nós somos diretamente responsáveis pela falta de compromisso com o outro, com a falta de sensibilidade com a vida, com nosso vizinho, com aquele que dorme em um pedaço de papelão embaixo de algum viaduto (é um marginal, vagabundo, dizemos nós). Somos nós que ensinamos as nossas crianças a querer TER coisas e esquecemos de ensina-las a querer SER. Somos nós que preferimos odiar aquele que pensa de forma diferente da nossa ao invés de tentar compreendê-lo e até aprender com seus argumentos e quem sabe tentar nos fazer entender com argumentos e não com xingamentos ou ironias, ou julgamentos. Somos nós que daqui há dois ou três dias vamos mudar de assunto, pois aquela imagem não vai mais aparecer na timeline e passaremos a discutir sobre a rodada do campeonato de futebol, decidir quem é ladrão e quem é santo na política, dar um “migué” no trânsito pra chegar mais rápido que os outros, não dar nota pra sonegar imposto e depois sair num domingo de camiseta da CBF pra protestar contra a corrupção (dos outros), enfim, seguir a vida.
     Não quero ver a cena, não porque não aguento ver a criança morta na beira da praia. Não quero ver a cena porque não suportaria me enxergar nela, assistindo de braços cruzados como tenho feito. Eu sou responsável por mudar o mundo, sim! Não significa que eu tenho que pegar um avião e ir pra Síria, não é isso, mas eu posso (sem muito esforço) mudar a minha atitude frente à vida e aos meus semelhantes, mudar o meu mundo, a minha casa, eu mesmo, a minha forma de agir no mundo, a minha forma de viver.

     Que Deus receba aquele menino em seus braços e ofereça a ele o afeto que nós não fomos capazes lhe dar.

Reflexões para o Dia dos Pais

06 agosto 2015



   A medida que as datas comemorativas vão se aproximando, eu costumo sempre pensar um pouco sobre seus significados. Não o significado da data ou da própria comemoração em si, mas do significado do que a data homenageia. A próxima é o dia dos pais e, como pai, sempre tenho muito o que pensar. Minha cabeça ferve com ideias, dúvidas e soluções. Eu não teria a capacidade e nem o espaço necessário para dizer tudo, mas penso que algumas coisas são relevantes, pelo menos pra mim.
    Neste ano há uma situação nova que se apresenta no meu horizonte, que é o fato de ter duas filhas (no ano passado já tinha, mas a menor ainda era muito pequena). É interessante e desafiadora a experiência, porque é como se eu fosse pai pela primeira vez de novo. A verdade é que na maioria das questões a gente meio que esquece como agiu com a primeira e tudo aquilo que ainda lembra, não funciona mais, pelo simples fato de que são pessoas completamente diferentes, apesar de nascidas dos mesmos pais e criadas em um mesmo ambiente. É fascinante estar nessa posição de pai e poder habitar mais esse pequeno espaço que é do divino, mas que nos é concedido por Deus vivenciar quando se é pai.
    Já falei aqui em outras oportunidades que a paternidade nos dá a chance de experimentar algo semelhante ao que deva ser o amor divino, sob uma perspectiva totalmente humana, pois nos revela um elemento do amor divino que é a incondicionalidade. Só o amor paterno (e o materno) é capaz de compreender essa característica do amor divino, pois o amor romântico, ainda que sustentado em Deus e, mesmo que sedimentado pelo tempo, não chega nem perto dessa compreensão. Ser pai novamente me trouxe uma nova experiência do divino, pois é possível compreender a opção divina de dar liberdade para a humanidade, de respeitar o nosso livre arbítrio.
    Quem me conhece sabe que tenho muita dificuldade de compreender frases como "Deus quis assim" ou "estava escrito" ou ainda "é a vontade de Deus". Eu compreendo a vontade de Deus como a ideia de que Ele nos presenteou com o livre arbítrio por amor, mesmo que isto signifique que nós o rejeitemos e isso não me permite conviver com a ideia de destino. Pois é essa mesma ideia que agora faz ainda mais sentido para mim. Eu explico.
     Seria muito mais simples para mim que as minhas filhas reagissem de forma idêntica aos estímulos. Seria mais confortável, mais simples de viver e mais cômodo para toda a família. Porém, seria muito menos rica a experiência. A percepção de que as escolhas que elas já fazem e as que ainda farão são/serão completamente diversas me faz amar ainda mais as duas, pois o amor paterno (o que me parece ser semelhante ao amor divino) não é aquele amor que espera retorno, não é aquele amor "interessado", mas é o amor que quer que o outro cresça, que o outro floresça, que o outro seja feliz. A felicidade de Deus, por essa ótica, é ver seus filhos sendo felizes e é por isso que nos presenteou com o livre arbítrio e é por isso que creio firmemente que a sua interferência em nossas vidas (que fique claro que não estou negando que Ele interfira) é de fato menor do que aquela que o senso comum entende como o "destino" ou como o caminho "escrito" por Deus. Por óbvio, acredito que Deus tem um plano para cada um de nós e até um desejo que sigamos em tal caminho, porém, nos deu a liberdade de escolhê-lo ou não e é assim que também vejo a forma que eu como pai preciso me comportar.
    As minhas escolhas no papel de pai são, geralmente, as mesmas em relação às minhas duas filhas. Digo geralmente porque entendo que há situações diversas tanto em relação ao tempo em que vivemos, como em relação à personalidade de cada uma ou mesmo em relação à minha maturidade como pessoa, que podem determinar alguns caminhos diferenciados, mas, na essência, são escolhas que vão no mesmo sentido. Porém, entendo que o que me faz um pai melhor é seguir o exemplo de paternidade de Deus. Ou seja, é claro que eu tenho um plano para cada uma das minhas filhas, mas o fato de amá-las de forma incondicional, me impede de interferir de forma exagerada para que este plano se concretize, pois elas têm o direito (livre arbítrio) de tomar seus próprios caminhos, de buscarem a sua felicidade. Eu como pai, assim como acredito que Deus também faz/fez como pai, tenho o dever de em primeiro lugar amá-las e, assim, oportunizar a elas as condições de compreender suas próprias escolhas, apontando os caminhos e identificando aquilo que eu entendo como as consequências de cada escolha, porém, deixando-as seguras de que, independente do caminho escolhido, o meu amor nunca deixará de ser infinito.
    Peço a Deus neste momento em que o dia dos pais se aproxima, que me ilumine o caminho para que eu possa também ser capaz de escolher aquele que me trará maior felicidade e que minhas escolhas sejam as mais próximas daqueles que fazem parte do Seu plano, pois confio que este plano de Deus é o que me leva à felicidade e é o que me faz encontrar o Seu amor. Obrigado meu Deus por me amar tanto que, mesmo tendo o poder de me tornar seu "fantoche" e determinar um "destino", me concede o presente do livre arbítrio. Que cada pai e cada filho seja capaz nesse dia de compreender a beleza desse amor.
    Feliz dia dos pais.

Esporte + Vida + Diversão

19 junho 2015



     Nos últimos dois meses passei a fazer parte da equipe de corrida do Daniel Rech. Acontece que neste tempo acabei descobrindo mais que um lugar pra me exercitar, mas um local para conhecer pessoas, compartilhar histórias, descobrir novas amizades, me divertir, relaxar. O "subtítulo" da marca é realmente exercido nesta equipe: Esporte - Vida - Diversão.
      Os treinos não são fáceis, não. O trabalho é intenso, as pessoas estão lá empenhadas a ter o seu melhor resultado, superar-se e pra isso o Dani não poupa ninguém. Se vocês querem treinar nessa equipe, tem que estar dispostos e dar o algo mais, insistir um pouco mais quando o corpo e a cabeça pedem para parar, por isso o Esporte, porque aqui se leva a sério a corrida.
      Algumas equipes encerram por aí, pelo esporte, pelo treino, mas essa equipe é mais do que isso, aqui é muito mais do que apenas correr. Aqui há uma equipe de corrida, mas há uma equipe de vida, de partilha, de relações de ajuda, de parceria, de esforço conjunto, de celebrar as pequenas e as grandes vitórias de cada um como se de todos fossem, de fazer o seu treino, mas aproveitar o momento para saber do outro, para oferecer ajuda, para ser suporte para o outro. Aqui o Esporte é também Vida.
      Porém, ainda não é só isso, pois nesta equipe, aliado a tudo está uma grande dose de diversão, de alegria, de desfrutar da vida. Quando essa turma se reúne no final dos treinos ou em qualquer evento, essa cumplicidade do esporte e da vida se traduzem em Diversão, alegria, celebração. Não é possível chegar perto de uma rodinha da equipe EDR sem notar os sorrisos, a piada, a pegação de pé.
      Encontrei nessa equipe muito mais que um esporte, um local pra treinar, encontrei testemunhos de vida maravilhosos, histórias de superação incríveis, rostos acolhedores, mãos prontas para dar apoio, palavras de incentivo, olhares de afeto, sorrisos sinceros.
      Estou feliz por ter encontrado essa turma e espero ainda ficar muito tempo com eles. 
     Pra vocês que seguem aí sentados na frente da TV com preguiça de viver eu digo: pra estar vivo, é preciso primeiro estar disposto à vida, estar disposto a se expor, dar um passo, e, pra correr, muitos passos são necessários, mas o melhor disso é saber que existem pessoas dispostas a dar muitos passos na direção do outro.