Ontem a cena me gerou muitas reações. Primeiro eu não
queria ver, olhava de canto de olho. Quando alguém
compartilhava a tal cena eu corria a tela pra não ver. A cena
em si não era tão chocante a primeira vista, mas o
conteúdo que ela trazia não me fazia aceitar a sua
existência. Eu confesso que até agora não tive
coragem de ler nada, não vi os noticiários na
televisão, não li nenhuma reportagem sobre o assunto.
Não quero saber mais daquilo que já estou careca de
saber. Não quero me reconhecer nesse mundo que vivo e não
quero me reconhecer nas atitudes que os seres humanos, iguais a mim,
são capazes para satisfazer suas próprias vontades e
impor aquilo que acreditam ser verdades.
É
disso que estamos tratando, não se enganem! Isso não é
um fato distante. Não tem nada a ver com o que os outros
fazem. Não está lá na longínqua Síria.
Não é culpa de uma religião. Não é
responsabilidade de um punhado de malucos. Isso tem a ver comigo e
contigo. Isso é diretamente relacionado ao nosso comportamento
cotidiano, esse comportamento que nos coloca de frente com o nosso
próprio umbigo, que me faz imaginar que o mundo se resume a
mim mesmo e as possibilidades acerca do meu “sucesso”, daquilo
que eu posso ter, dos prazeres que eu possa experimentar, do tanto
dinheiro que eu possa gastar comigo mesmo e com meus desejos. Eu e
você somos os criadores desse mundo violento, sim! Nós
somos diretamente responsáveis pela falta de compromisso com o
outro, com a falta de sensibilidade com a vida, com nosso vizinho,
com aquele que dorme em um pedaço de papelão embaixo de
algum viaduto (é um marginal, vagabundo, dizemos nós).
Somos nós que ensinamos as nossas crianças a querer TER
coisas e esquecemos de ensina-las a querer SER. Somos nós que
preferimos odiar aquele que pensa de forma diferente da nossa ao
invés de tentar compreendê-lo e até aprender com
seus argumentos e quem sabe tentar nos fazer entender com argumentos
e não com xingamentos ou ironias, ou julgamentos. Somos nós
que daqui há dois ou três dias vamos mudar de assunto,
pois aquela imagem não vai mais aparecer na timeline e
passaremos a discutir sobre a rodada do campeonato de futebol,
decidir quem é ladrão e quem é santo na
política, dar um “migué” no trânsito pra
chegar mais rápido que os outros, não dar nota pra
sonegar imposto e depois sair num domingo de camiseta da CBF pra
protestar contra a corrupção (dos outros), enfim,
seguir a vida.
Não
quero ver a cena, não porque não aguento ver a criança
morta na beira da praia. Não quero ver a cena porque não
suportaria me enxergar nela, assistindo de braços cruzados
como tenho feito. Eu sou responsável por mudar o mundo, sim!
Não significa que eu tenho que pegar um avião e ir pra
Síria, não é isso, mas eu posso (sem muito
esforço) mudar a minha atitude frente à vida e aos meus
semelhantes, mudar o meu mundo, a minha casa, eu mesmo, a minha forma
de agir no mundo, a minha forma de viver.
Que
Deus receba aquele menino em seus braços e ofereça a
ele o afeto que nós não fomos capazes lhe dar.
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