Reflexões para o Dia dos Pais

06 agosto 2015



   A medida que as datas comemorativas vão se aproximando, eu costumo sempre pensar um pouco sobre seus significados. Não o significado da data ou da própria comemoração em si, mas do significado do que a data homenageia. A próxima é o dia dos pais e, como pai, sempre tenho muito o que pensar. Minha cabeça ferve com ideias, dúvidas e soluções. Eu não teria a capacidade e nem o espaço necessário para dizer tudo, mas penso que algumas coisas são relevantes, pelo menos pra mim.
    Neste ano há uma situação nova que se apresenta no meu horizonte, que é o fato de ter duas filhas (no ano passado já tinha, mas a menor ainda era muito pequena). É interessante e desafiadora a experiência, porque é como se eu fosse pai pela primeira vez de novo. A verdade é que na maioria das questões a gente meio que esquece como agiu com a primeira e tudo aquilo que ainda lembra, não funciona mais, pelo simples fato de que são pessoas completamente diferentes, apesar de nascidas dos mesmos pais e criadas em um mesmo ambiente. É fascinante estar nessa posição de pai e poder habitar mais esse pequeno espaço que é do divino, mas que nos é concedido por Deus vivenciar quando se é pai.
    Já falei aqui em outras oportunidades que a paternidade nos dá a chance de experimentar algo semelhante ao que deva ser o amor divino, sob uma perspectiva totalmente humana, pois nos revela um elemento do amor divino que é a incondicionalidade. Só o amor paterno (e o materno) é capaz de compreender essa característica do amor divino, pois o amor romântico, ainda que sustentado em Deus e, mesmo que sedimentado pelo tempo, não chega nem perto dessa compreensão. Ser pai novamente me trouxe uma nova experiência do divino, pois é possível compreender a opção divina de dar liberdade para a humanidade, de respeitar o nosso livre arbítrio.
    Quem me conhece sabe que tenho muita dificuldade de compreender frases como "Deus quis assim" ou "estava escrito" ou ainda "é a vontade de Deus". Eu compreendo a vontade de Deus como a ideia de que Ele nos presenteou com o livre arbítrio por amor, mesmo que isto signifique que nós o rejeitemos e isso não me permite conviver com a ideia de destino. Pois é essa mesma ideia que agora faz ainda mais sentido para mim. Eu explico.
     Seria muito mais simples para mim que as minhas filhas reagissem de forma idêntica aos estímulos. Seria mais confortável, mais simples de viver e mais cômodo para toda a família. Porém, seria muito menos rica a experiência. A percepção de que as escolhas que elas já fazem e as que ainda farão são/serão completamente diversas me faz amar ainda mais as duas, pois o amor paterno (o que me parece ser semelhante ao amor divino) não é aquele amor que espera retorno, não é aquele amor "interessado", mas é o amor que quer que o outro cresça, que o outro floresça, que o outro seja feliz. A felicidade de Deus, por essa ótica, é ver seus filhos sendo felizes e é por isso que nos presenteou com o livre arbítrio e é por isso que creio firmemente que a sua interferência em nossas vidas (que fique claro que não estou negando que Ele interfira) é de fato menor do que aquela que o senso comum entende como o "destino" ou como o caminho "escrito" por Deus. Por óbvio, acredito que Deus tem um plano para cada um de nós e até um desejo que sigamos em tal caminho, porém, nos deu a liberdade de escolhê-lo ou não e é assim que também vejo a forma que eu como pai preciso me comportar.
    As minhas escolhas no papel de pai são, geralmente, as mesmas em relação às minhas duas filhas. Digo geralmente porque entendo que há situações diversas tanto em relação ao tempo em que vivemos, como em relação à personalidade de cada uma ou mesmo em relação à minha maturidade como pessoa, que podem determinar alguns caminhos diferenciados, mas, na essência, são escolhas que vão no mesmo sentido. Porém, entendo que o que me faz um pai melhor é seguir o exemplo de paternidade de Deus. Ou seja, é claro que eu tenho um plano para cada uma das minhas filhas, mas o fato de amá-las de forma incondicional, me impede de interferir de forma exagerada para que este plano se concretize, pois elas têm o direito (livre arbítrio) de tomar seus próprios caminhos, de buscarem a sua felicidade. Eu como pai, assim como acredito que Deus também faz/fez como pai, tenho o dever de em primeiro lugar amá-las e, assim, oportunizar a elas as condições de compreender suas próprias escolhas, apontando os caminhos e identificando aquilo que eu entendo como as consequências de cada escolha, porém, deixando-as seguras de que, independente do caminho escolhido, o meu amor nunca deixará de ser infinito.
    Peço a Deus neste momento em que o dia dos pais se aproxima, que me ilumine o caminho para que eu possa também ser capaz de escolher aquele que me trará maior felicidade e que minhas escolhas sejam as mais próximas daqueles que fazem parte do Seu plano, pois confio que este plano de Deus é o que me leva à felicidade e é o que me faz encontrar o Seu amor. Obrigado meu Deus por me amar tanto que, mesmo tendo o poder de me tornar seu "fantoche" e determinar um "destino", me concede o presente do livre arbítrio. Que cada pai e cada filho seja capaz nesse dia de compreender a beleza desse amor.
    Feliz dia dos pais.

1 Comente aqui:

Dani Alonso disse...

Reflexão interessante, aqui em casa o livre arbítrio das crianças é bem limitado, mas fazemos de tudo como pai e mãe para que quando chegar a hora deles exercerem de fato o livre arbítrio deles façam de forma consciente . Um feliz dia dos pais!