Depois
de muito tempo sem escrever nada, resolvi retomar esse hábito depois das
manifestações que estão ocorrendo pelo Brasil. Não tenho ideia do tamanho do
texto que vou produzir, pois estou apenas começando a escrever, mas tenho quase
certeza que será bem extenso. Portanto, me perdoem desde já pelo tamanho do
texto.
São
vários os aspectos que creio são importantes para a reflexão e pretendo
trabalhar a maioria deles por aqui.
Pra mim
o mais importante das recentes manifestações não é o que poderá produzir em
termos concretos nas possíveis reduções de tarifas ou outras atitudes que os
governantes possam tomar na tentativa de estancar os protestos. Na verdade, o
mais importante nisso tudo é o despertar da cidadania brasileira. Estávamos
estagnados na mesmice, no conformismo cotidiano. Cada vez mais ouvíamos a frase
“não gosto de política” como se isso fosse uma coisa boa, desejável.
Ficávamos anestesiados discutindo a novela, aprendendo com ela como de fato os
maus cidadãos, os maus seres humanos eram mesmo mais interessantes, os que mais
conquistavam as coisas, enquanto os quase abobados “mocinhos” levavam porrada
da vida dia após dia. As pessoas acreditaram que aquilo era verdade e se
acostumaram com a ideia de que não podíamos fazer nada em contrário, já que “o
mundo é assim”.
Para
aqueles que me dizem não gostar de política, eu sempre recomendo retirar-se
para as montanhas e viver como um verdadeiro eremita, pois não é possível viver
em sociedade, conviver com outros seres humanos, sem estar permanentemente
envolvido com a política. E falo de todo o tipo de política, pra ficar claro,
falo também da política partidária. Claro que fica mais fácil falar mal dos
políticos e se manter bem longe da política partidária, pois aí o argumento
inclusive se fortalece. Porém, está muito claro que o não envolvimento com ela
só traz benefício para aqueles que se utilizam dela para aniquilar o interesse
público e se aproveitar do que é de todos em benefício próprio. É necessário
compreendermos que se é esse o sistema posto, se é a partir da política
partidária que se dá a representação da população, é a partir dela que essa mesma
população deve construir a sua “revolução”.
Um
ponto importante é tentar compreender o que tem acontecido, pois tenho visto
muita gente tentando compreender as manifestações que estão ocorrendo, conforme
os referenciais construídos em tempos passados. Quero crer que isso não é mais
possível. O fenômeno das redes sociais modificou toda a compreensão de
movimentos sociais “organizados”. Em outros momentos, identificávamos uma CAUSA
de protestar, um SEGMENTO da sociedade e LIDERANÇAS identificadas. Nenhuma
dessas premissas é mais possível identificar. Com o fenômeno das redes sociais,
os movimentos de protesto são pulverizados em suas causas, pois as pessoas vão
aderindo a ideia central de protestar, mas carregam o seu propósito pessoal de
manifestação, pois as redes sociais pressupõem diversidade de segmentos, sejam
eles socioculturais, econômicos, profissionais, etc. Por essa pulverização de
articulação, fica também prejudicada a identificação de lideranças, pois a
partir do primeiro retweet ou compartilhar, perde-se a identidade da autoria da
mobilização. Portanto, creio que essa mobilização não necessita de força
política para conseguir aprovar isso ou aquilo, para derrubar esse ou aquele,
pois ela se presta fundamentalmente para fazer as pessoas acordarem para a
possibilidade de ser protagonista da vida em sociedade.
Isso
tudo, para ter consequência, deve ser capaz de fazer nascer em nós algumas
reflexões importantes. Coisas como por exemplo: como posso protestar contra a
corrupção, se sou capaz de realizar pequenas infrações diariamente? Se a
corrupção é pequena ou maior, me parece que depende fundamentalmente da
oportunidade que se apresenta. Se sou capaz de encontrar um justificativa para
“pequenas corrupções cotidianas”, serei mesmo capaz das grandes corrupções se
tiver oportunidade. Precisamos parar de imaginar que as pequenas infrações
podem ser toleradas; preciso levar mais a sério a política, participar das
discussões, procurar buscar informações, votar com consciência, por acreditar
no projeto e depois ser capaz de cobrar as promessas e não reconduzir aqueles
que não cumprem seus projetos de campanha. Se preciso for, participar
ativamente da política partidária, sem aceitar “a vida fácil” dos
“oportunidades” que se colocam a nossa frente quando estamos envolvidos nesse processo.
Sermos capazes de retomar o valor do interesse público, valor esse quase esquecido por todos, já que o individualismo,
o consumismo exacerbado, a busca da satisfação pessoal a qualquer custo, nos
distanciam cada vez mais desse valor.
Poderia
escrever mais, mas vou deixar para os próximos posts. O importante é dizer que
isso tudo faz parte do nosso dever de cidadão. Na verdade, para aqueles que,
como eu, se identificam como cristãos, esse dever é ainda mais importante.
Lembro aqui o que disse o nosso querido Papa Francisco: “Envolver-se na
política é uma obrigação para um cristão. Nós, os cristãos, não podemos fazer
de Pilatos e lavar as mãos, não podemos! Temos de nos meter na política, porque
a política é uma das formas mais altas de caridade, porque busca o bem comum.
Os leigos cristãos devem trabalhar na política. A política está muito suja, mas
eu pergunto: está suja porquê? Porque os cristãos não se meteram nela com
espírito evangélico? (..) É fácil dizer que a culpa é dos outros. Mas eu, o que
eu faço? Isto é um dever! Trabalhar para o bem comum é um dever do cristão.” E
para aqueles que não são cristãos, vale a pena alterar no texto do Papa a
palavra cristão por cidadão que a mensagem continua verdadeira.
Manifestem-se!
2 Comente aqui:
Assino em baixo, Zuzu!
Boa Noite!
Você entrou numa seara interessante! que bom!, o seu texto demonstra uma outra faceta, mais madura, de uma advogado idealista (para o bem comum)e um cristão convicto. Ao pensar, e colocar no papel também transmitimos o sentimento de que algo de novo e é possível, é necessário repensar valores humanos e espirituais, realmente do bem viver em sociedade e em comunidade. Parabéns vamos em frente e avante. Valderi.
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