Solidariedade cotidiana. Onde anda?

16 março 2011

É comovente como as pessoas aqui no Rio Grande do Sul têm se mobilizado para ajudar as vítimas da enchente ocorrida em São Lourenço do Sul. Realmente é bonito ver as pessoas entrando em suas casas e buscando aquelas coisas que podem não estar sendo tão necessárias pra elas, mas que podem ser fundamentais para aqueles que perderam tudo. Penso que a solidariedade está muito relacionada a esse sentimento que nos impulsiona a querer partilhar com os outros. Para isso, não há necessariamente a imposição de uma doação de cunho patrimonial. Não creio que seja assim, apenas. É possível ser solidário, nesses casos, mesmo sem ter condições financeiras de ajudar. Posso dar um sorriso, um abraço, estender a mão para levantar uma parede, ajudar a limpar a casa cheia de lama. Na verdade, a solidariedade não é apenas uma questão de doar algo, mas também pode ser "apenas" doar-se.

Esses momentos de comoção geral, gerados principalmente pelo tamanho da catástrofe e da repercussão pública através dos meios de comunicação, geram na população em geral esse "espírito solidário", pois somos capazes de nos colocar no lugar do outro. Porém, tenho me perguntado qual a razão de ainda sermos indiferentes às catástrofes cotidianas, às quais nos deparamos inúmeras vezes durante nosso dia. O menino no sinal pedindo uma moeda para comer. O homem que dorme na calçada fria, coberto com papelão para espantar o frio.

Somos capazes de nos solidarizar com aqueles que estão longe com enorme facilidade, mas temos uma enorme dificuldade de compreender a necessidade daquele que está próximo. Criamos teses estranhas para justificar nossa indiferença. Dizemos que o menino no sinal quer dinheiro pra comprar droga, ou que está sendo usado pelos pais que não querem trabalhar ou apenas porque querem dinheiro para comprar cachaça. Reclamamos que o homem que dorme na calçada fede e que, por certo, é vagabundo ou até perigoso e pode nos assaltar. Por isso andamos longe deles. Vejam que as justificativas em alguns casos são até racionais e coerentes, mas apenas nos desviam do fundamental. A verdade é que por algum motivo estamos (sociedade) negligenciando aqueles que são iguais a nós. Sim, iguais a nós! Homens e mulheres que não tem direito de ser gente, de ser cidadão, de ser digno de consideração como ser humano. São subseres que vagam por nossas cidades. Ensinamos as nossos crianças a atravessarem a rua quando tem um por perto e de sentirem medo quando "um deles" se aproxima de nós.

A solidariedade na distância é relativamente fácil, mas a solidariedade cotidiana, essa sim é complicada de ser vivida. O desafio pra mim hoje é conseguir exercitar a solidariedade cotidiana. E vocês, o que pensam sobre isso?

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