Reflexão: Paternalismo + Individualismo + Jeitinho Brasileiro

23 setembro 2011


   Editado em 24/04/2012: Novo título do post recomendade pelo professor Diego Canabarro: "Da ingovernabilidade no Estado brasileiro: os efeitos de uma população ingovernável"

   Ontem foi o meu primeiro dia de aula no Pós em Gestão Pública, lá na UFRGS. Estávamos conversando sobre o Estado, seu tamanho, diferença entre público e privado, quando o prof. Eugenio Lagemann nos lançou uma reflexão sobre a característica do povo brasileiro em reclamar demasiadamente de tudo que se relaciona com o setor público, de não colaborar com o sistema e, consequentemente, com a sociedade. Fiquei pensando, afinal, quais as principais causas desse comportamento. Aqui, pretendo tratar de três delas: o paternalismo, o individualismo e o jeitinho brasileiro. 
   Quando falo em paternalismo, por óbvio, não estou tratando objetivamente do paternalismo, mas das consequências que esse fenômeno (se é que posso chamá-lo assim) ainda nos traz nos dias de hoje. O brasileiro continua tendo de forma muito forte em sua cultura, a idéia de que o Estado é aquele ente que tem o papel de dizer o que é bom pra mim e ainda me fornecer esse "bem". De uma certa forma, entendo que meus problemas, minhas dificuldades, tem soluções que não me dizem respeito, das quais não tenho responsabilidades, ou seja, não preciso, não devo e não quero me envolver com a solução dessas questões.
   O individualismo soma-se a esta concepção proveniente do paternalismo e a exacerba. Percebam que a priori o individualismo é contraposto ao paternalismo. Porém, o individualismo que falo, é uma nova forma de individualismo que estamos experimentando no nosso tempo, em que o indivíduo não mais busca a liberdade e a responsabilidade pelos seus atos, assumindo deveres e direitos, mas busca apenas realizar os seus projetos, sem qualquer comprometimento com os projetos coletivos e, ainda, eximindo-se das suas responsabilidades com eles (deveres) e exigindo cada vez mais os seus direitos.
   Soma-se a isso, ainda, o nosso tão famoso "jeitinho brasileiro". Aquele que ainda hoje é cantado em prosa e verso como sendo uma virtude do brasileiro e que, na minha opinião, é um dos maiores malefícios da nossa sociedade. O jeitinho brasileiro é o veículo para a legitimação desse individualismo paternal (se é que podemos chamar assim). O cidadão, através do jeitinho brasileiro, conforma-se com a prática de pequenos delitos, que são até considerados inofensivos em grande parte das vezes.
   Não sei o que pensam sobre isso (gostaria que comentassem e me ajudassem a refletir) mas creio que são nesses pontos que precisamos atuar para que modifiquemos a forma de enxergar o Estado e suas responsabilidades.

1 Comente aqui:

Alexandre Brito disse...

boa Felipe.

o jeitinho brasileiro é a expressão de um individualismo tupiniquim que se embrenha perniciosamente no paternalismo corporativo (privado) e estatal (público).

o paternalismo se vale das irresponsabilidades sociais do individualismo para se preservar na sua posição de poder/provedor.

o individualismo, à sociedade,
é a expressão mais cara da nossa miopia.

o fenômeno endêmico da corrupção passa exatamente por estes vetores socio-culturais que acabas de apontar.

isso e mais meio quilo de chouriço.
:O)
abração mestre!