Da série: Ensinamentos da Mariana - Diferenças

23 maio 2011

Aconteceu nessa sexta-feira (19/05/2011) um fato que me fez pensar muito sobre muitas coisas. Eu conto pra vocês.

Quando chegamos na escola para buscar a Mariana, lá estava a professora Marcela nos esperando na porta da escola para nos contar uma história. Segundo a professora, estavam todos na aula de natação. Ao sair da piscina pra voltar pra escola, havia uma menina esperando para entrar na água. Essa menina tem algum tipo de necessidade especial que a deixa com o rosto um tanto desfigurado. A medida que as crianças iam passando por ela, notava-se que olhavam a menina com um certo expanto. A Mariana então resolveu parar pra falar com a menina e disse: "o teu rosto é assim mesmo?" (nessa hora a professora já começou a se preparar para intervir se preciso). A menina respondeu: "sim". A Mariana então disse: "eu te acho linda assim mesmo".

Me emocionei muito com a história e fiquei um tanto orgulhoso da minha filha, mas depois fiquei pensando o que aquilo poderia me ensinar. O que eu poderia tirar desse episódio para modificar minhas ações e o que penso sobre algumas coisas.

Fiquei aqui pensando por que, afinal, uma atitude como essa é tão "anormal", a ponto de ficarmos tão felizes e tão espantados com essa atitude da Mariana? Percebam que conversamos com ela sobre o fato e ela nos contou a situação com a maior normalidade, quase não entendendo porque tanta repercussão daquilo que, pra ela, era uma atitude normal, comum.

Sabemos que os preconceitos (de qualquer ordem) não são impostos às pessoas diretamente, mas nos pequenos gestos e atitudes cotidianas que vão construindo conceitos e idéias, que nos parecem sólidos, corretos e até indiscutíveis, exatamente porque gestados devagar e solidamente.

Desde pequenos, e assim fazemos com nossos filhos, aprendemos que mentir é FEIO, roubar é FEIO, os vilões dos desenhos animados são FEIOS, bater nos outros é FEIO, etc. Em contrapartida, se comportar é BONITO, ser bem educado é BONITO, estudar é BONITO, trabalhar é BONITO, ser honesto é BONITO, as princesas e os heróis são BONITOS, amar é BONITO. Não é difícil entender que aprendemos a relacionar que tudo que é bom é bonito e tudo que é ruim é feio. Rapidamente poderíamos então dizer que o que nos parece bonito é bom e o que nos parece feio é ruim. É assim que fazemos a maioria das nossas escolhas. Procuramos uma mulher/homem bonita/o para casar. Compramos um carro bonito. Uma casa bonita. Um sapato bonito. Porém, esquecemos (muitas vezes) de procurar antes da beleza a essência (que chamamos, não por acaso, de "beleza interior"). Pensando assim, casamentos são desfeitos todos os dias, pois o homem/mulher deixa de ser bonito com o tempo. Pensando assim compramos coisas que não usamos ou que não servem exatamente para o que queremos usar, porque queríamos algo bonito e não apenas funcional. Pensando assim as mulheres (principalmente) passam o dia inteiro com os pés cheios de bolhas e doídos, porque o sapato é muito desconfortável, mas é bonito e está na moda.

Alguns dizem por aí que "a primeira impressão é a que fica". Discordo! Creio que a primeira impressão é a que desvela nossos preconceitos, é a que traz a tona tudo aquilo que aprendemos a diagnosticar entre bonito e feio. Por isso, creio que preciso fazer força para ultrapassar a primeira impressão e dispensar o juízo do feio e do belo para que, de fato, entenda a beleza da essência e da humanidade dos que me cercam.

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12 Comente aqui:

Lisiane Cerentini disse...

Que sensacional Zuzu.... adorei! Fiquei emocionada! Já aprendi que entre pais/mães e filhos são uma troca insessante, pq a simplicidade deles nos ensinam tanto quanto tentamos passar à eles... Tenho a certeza de que atitudes como esta da Mari é tão somente espelho de tudo aquilo que vcs já passaram para ela, porque afinal, 'tão valioso quanto os ensinamentos, são os exemplos'.
Parabéns para vcs.
Bjus, um especial na Mariana.

Camile Hillesheim disse...

Esse episódio também me fez pensar bastante... Fiquei pensando sobre a essência desse sentimento da Mariana. E o que mais me comoveu foi a generosidade dela que embora estivesse vendo uma pessoa diferente, com rosto estranho e até feio para ela, não exitou em falar com a menina e lhe dizer palavras tão carinhosas. Ela simplesmente resumiu na frase dela vários sentimentos que deveriam ser básicos, mas que muitas vezes se tornam tão raros entre nós. Como se ela dissesse: "Não te preocupa menina, este mundo também é teu e eu te aceito como és!"

Rejane Guariglia da Silva disse...

A grandeza do ato da Mariana está efetivamente na espontaneidade!!!
Isso é respeitar as diferenças. Isto é a real inclusão que tentam incutir com leis. O humano é ser!!!Cada um c/ o que pode. Cada um c/ o que tem. Cada um como é!!!! E viva as diferenças!! E viva os filhos que nos fazem refletir sobre conceitos importantes que a rotina faz c/ que deixemos de lado. bjão

Anônimo disse...

me emocionei com a naturalidade da Mariana. é incrível como crianças conseguem ser puras. parabéns!

Janaína - DF

Anônimo disse...

Olá Luis,

Que post lindo e interessante.
Nos faz pensar no quão egoistas temos sido para com o nosso "semelhante".
Obrigada por compartilhar tão belo texto.
Abraços. Cíntia - GEAP-DF

Michele Willges disse...

A atitude de Mariana mostra que devemos ter a mesma sensibilidade de uma criança. O mesmo carinho, enfim...ter os mesmos olhos sem julgamentos ou preconceitos.

Maristela disse...

Este fato só reforça o que eu já sabia,ele é consequencia da educação que vocês estão dando a Mariana.Tenham certeza será a maior herança que era poderia receber.Parabéns.Maris

Anônimo disse...

Parabéns pelo texto e pelo gesto da filha. Também tenho uma filha pequena e sei que educar é um desafio diário, com certeza vcs estão no caminho certo.

Alexandre Brito disse...

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bravo Felipe!

depreender, apreender...
aprendendo a aprender.

viva Mariana!

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Rita disse...

Adorei a frase a primeira impressão é que desvela nossos preconceitos...nos julgamos muitas vezes sem preconceitos que aceitamos com naturalidade as diferenças...dizemos isso até o momento que nos deparamos com essa realidade, meu primeiro dia de trabalho na escola especial valeu para mostrar o quanto estava "despreparada" para essa realidade, realidade que não deveria estar distante, pois essas pessoas merecem circular por todos os espaços com liberdade, não devem viver "escondidos" por causa de sua deficiência...e esse episódio da Mariana nos mostra o quão as crianças são superiores...superiores em sentimento e principalmente sem medo de agir, de se aproximar...de ser verdadeiramente humana... eu tive a primeira impressão e hj me lembro desse dia e vejo o quanto fui medrosa e preconceituosa...ainda bem que ainda temos tempo de aprender, de rever conceitos, de se permitir! Agradeço a cada dia o contato, a vivencia a troca com o diferente!

Marcinha disse...

QUE BENÇÃO ESTA FILHA!!!
O FRUTO NÃO CAI LONGE DO PÉ!
PARABÉNS AOS PAIS.

Caci disse...

Lindo! Esta Mari é uma princesa!!! Adoro ela!!!