As aparências enganam!

14 dezembro 2011


   Ontem aconteceu algo bem interessante comigo e que gostaria de partilhar com vocês. Eu estava no Foro Central, em Porto Alegre, tirando cópias de um processo. A menina que trabalha na máquina de xerox tinha os cabelos bem curtos, meio avermelhados, um piercing no nariz, se não me engano. Era aquele tipo de menina que poderíamos descrever como diferente do "normal", ou pelo menos diferente daquilo que eu tenho registrado como "normal". Só isso já desperta uma infinidade de pensamentos  e preconceitos que carregamos desde de nossa tenra infância, o que no meu caso não é diferente de ninguém. É a tal da "primeira impressão" que eu já tratei aqui no blog em outro momento. Aquela fração de segundo em que apenas baseado na "estampa" (termo usado no Rio Grande do Sul para determinar a figura, a imagem da pessoa), somos capazes de trazer à tona todo o tipo de preconceito que carregamos.
   Pois bem, no momento em que estava tirando o xerox, ouvimos uma música natalina que nos parecia cantada por um coral. A menina logo procurou saber de onde vinha, mas não deixou de fazer o seu trabalho. Peguei as minhas cópias e saí do cartório. Foi quando me deparei com o tal coral, cantando músicas natalinas pelos corredores do Foro. Era um grupo composto basicamente por pessoas bem idosas, mas felizes por estar trazendo aquela mensagem para todos que ali estavam. O coral era da AJURIS e, pelos comentários que colhi por ali, era capitaneado por um desembargador aposentado. Todos estavam radiantes de estar ali cantando. Cantaram algumas músicas e saíram em direção a outro andar do prédio. Foi então que me encaminhei para a saída. Quando olhei para a porta do cartório, estava lá, aquela menina - que me parecia "rebelde" - chorando copiosamente, emocionada com aquele gesto, que fazia pessoas idosas passar uma tarde cantando e tentando alegrar um pouco aquele ambiente sempre tão estressante.
   Saí de lá pensando nisso, no quanto somos capazes de rotular as pessoas sem nem mesmo conhecê-las, sem conhecer a forma com que reage ao mundo e seus estímulos. Fazemos esses juízos precários cotidianamente, sem piedade, com a dureza característica do instante, estanque, descontextualizado.
   As pessoas não podem ser carimbadas pela "primeira impressão", precisamos verdadeiramente nos livrar disso. O que importa, não é a cor do cabelo, um belo sorriso estampado no rosto (mesmo que não verdadeiro), uma roupa de grife. O que importa verdadeiramente é a abertura do coração; o quão aberto está para receber o novo, o diferente; o quão aberto está para receber um gesto, um sorriso, uma canção; o quão aberto esse coração está para dar e receber amor. Não importa o tamanho do cabelo, a quantidade de brincos que tem na orelha ou o tipo de roupa que veste, isso é perfumaria, isso é periférico. A essência - essa sim fundamental - é a forma como me entrego para o outro, a forma como sou capaz (como fez a menina da história) de me emocionar com um simples gesto de carinho.
   Deus nascerá nesse Natal nos corações abertos ao seu chamado. Ele bate à porta de todos, mas Ele respeita, Ele espera, Ele perdoa. Ele não impõe, Ele não sufoca. Viver o Natal não é nada além de estar de coração aberto para que Jesus possa nascer no coração de cada um e que este nascimento seja também fonte de amor na vida de cada um que o recebe e na vida daqueles que os cercam. Esse é verdadeiro sentido do Natal. Esse é o verdadeiro sentido do amor.

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Bianca disse...

Felipe, muito lindo o teu texto. Eu me identifico muito com o que tu escreveste: é natural que julguemos apressadamente as pessoas. E assim como julgamos para o "mal", o inverso também ocorre: às vezes confiamos na boa-fé e na decência de alguém que não merece. Isso me aconteceu há pouco. E o que tenho ouvido das pessoas a quem conto a minha história me entristece. Coisas do tipo: "não podemos confiar em ninguém"; "é preciso ficar resguardado"; etc. Mas a verdade é que eu não vou mudar. Vou continuar acreditando na decência e na boa-fé das pessoas. Tu me conheces e sabes que eu não sou religiosa, mas compartilho contigo a tua noção de amor, de paciência e fé na humanidade.
Um beijão pra ti :)