Coisas que aprendi com a minha mãe

24 janeiro 2011


Essa semana celebro o nascimento de minha mãe para Cristo. Gosto de entender assim a morte dela. Minha mãe foi uma pessoa interessante. Entendia mais de ajudar os outros do que a si mesma. Entregava-se ao outro e, por vezes, esquecia de recolher pra si alguma migalha do que vinha dele. Não creio que minha mãe errou quando foi assim, pois acredito que ela foi feliz quando pode dar ao outro algum conforto, um ombro pra chorar, uma palavra de carinho. Talvez eu não tenha entendido bem isso tudo enquanto estávamos juntos, mas hoje tenho certeza que entendo bem melhor e sou grato por esses ensinamentos.

Aprendi com minha mãe a preterir o ódio e acolher o amor. Esse dias li em um livro uma referência a Mandela que diz: "ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar as pessoas precisam aprender e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar." Hoje sei que minha mãe fez muita força para me ensinar o amor e não o ódio. Como diz um amigo em uma canção "minha mãe me disse umas coisas sobre os ódios do meu peito. Disse que o ódio que se guarda vai matando só quem sente". Vejo minha mãe dizendo a frase da música. Acredito que ela pouco (ou nunca) realmente odiou alguém na vida, mesmo que alguns até "merecessem". Alimentar o ódio é ir matando aos poucos a alma. Morremos aos poucos quando negamos ao outro o que esperamos pra nós mesmos.

Hoje, como pai, vejo que entendo certas coisas que pretendo ensinar à Mariana, como coisas aprendidas por mim através da minha mãe. Aprendi com ela sobre limites. Aprendi que o limite faz parte do amor. Aprendi que educar é também dizer não. Há uma onda de dar tudo em excesso às crianças. Dar, dar e dar, o que, de outro lado, ensina às crianças que o importante é ter, ter e ter. As pessoas estão dando tanto que nem dão tempo da crinça desejar, já vão logo dando. É com o limite dado pelos pais que as crianças se deparam pela primeira vez com a perda, com a derrota, e não há lugar melhor que um colo de mãe ou de pai para embalar nossas derrotas. É necessário que tenhamos espaços em nossas casa para falarmos das nossas perdas, nossas derrotas. Necessitamos de pais que nos escutem primeiro para depois então indicar novos rumos.

Aprendi com minha mãe que não sou melhor nem pior que ninguém. Creio que foi um ensinamento saudável, já que vivemos em uma sociedade que nos cobra o topo o tempo todo, uma sociedade que quer ter, ter e ter a qualquer custo, valendo tudo para subir ao degrau mais alto do pódio. Não raras vezes esquecemos o valor da cooperação (valor esse muito bem retratado no desenho Carros, que a Mariana adora e eu também). Por que afinal um pai deve querer que seu filho seja melhor em tudo? É nesse ambiente que surgem inclusive as mentiras, já que o filho se vê na situação de precisar permanecer sempre no topo para não decepcionar seus pais. Então aplaudimos o filho vencedor e o exibimos aos outros, como se fosse um troféu. Assim, o filho não aprende a dividir, a cooperar, a amar. Assim, vamos aos poucos fomentando o ódio. É possível construir uma vida vitoriosa sem pisar nos outros. Li uma frase bonita dita pelo Gabriel Chalita e que divido com vocês: "é na divisão da refeição que se ensina a deixar ao outro uma parte daquilo que me daria prazer." É disso que eu falo, é esse o valor da cooperação que aprendi com minha mãe.

Apredi muito com a minha mãe e com meu pai também, é preciso ser dito. Porém, hoje quero celebrar as lembranças boas que tenho dela, os momentos felizes que vivemos juntos e as imagens de amor que inundam minha mente sempre que me lembro dela. Tenho saudade sim, graças a Deus, pois é essa saudade que me faz sempre lembrar de tudo de bom que vivi e que aprendi com ela.

4 Comente aqui:

Anônimo disse...

Que lindo, Zuzu!
Mães são seres especiais mesmo. Ao ler a reflexão sobre a tua mãe, percebo que tudo que sou e que acredito, aprendi com a minha mãe. Ela é uma mãe um tanto diferente do convencional, uma mãe moderninha eu diria. Mas uma pessoa iluminada que não vê maldade nas pessoas, que vê o lado de bom de tudo e de todos e que me ensinou a amar incondicionalmente. Não consigo imaginar minha vida sem ela, já morro de saudades mesmo podendo estar perto quando eu quero... Por isso te admiro ainda mais, por essa tua força e a forma tão bonita com que tu vês as coisas. A Mari tem muita sorte! Bjo, Kaki

Anônimo disse...

Aiai...
Li tuas palavras com olhos de mãe e não mais apenas de filha...
A maternidade é uma graça cocedida por Deus e já sinto o "peso" gostoso dessa nobre missão: ensinar a Juliana a amar as pessoas, a valorizar as amizades, a ser boa independentemente do que o mundo prepare p/ ela durante sua vida.
Desejo que Deus me dê a graça de estar ao seu lado por muito tempo, amparando-a no que for preciso... e como hj mesmo eu já digo a ela: "Vai passar o dodói, meu amor... a mamâe está aqui contigo..." Pq diante de minhas impotências, entrego minha pitoquinha a Deus e afirmo a ela que estou ao seu lado, sofrendo junto, amando e acalentando sua dor...
Espero que a Juju leve de mim todas as coisas boas que eu puder deixar nesta vida e que cresça em graça, sabedoria e amor a cada novo dia.
Obrigada mãe por existires na minha vida!
Obrigada Deus por me proporcionar viver a grandeza do amor através da maternidade!
Gde bj, Karina

Anônimo disse...

Primeiramente quero te dizer, na condição de tia coruja, que sempre que leio os teus texto encantadores, me encho de orgulho...!!!
Querido, Fiz parte desse mundo que falas e, apesar de não ser filha, cresci olhando os bons exemplos na família e teus pais certamente foram referencias importantes na minha vida. Amo vocês! Tia Soraia

Unknown disse...

Que lindo Felipe!
Mais uma vez, fiquei encantada e emocionada com o teu texto. Que Deus continue abençoando a tua linda família!
Com carinho,
Pôfi. Kiss