O inferno são os outros

26 maio 2014

 
 
   Uma frase que tem se repetido reiteradamente na minha cabeça e que me parece fazer muito sentido nos dias em que vivemos é aquela dita por Sartre: "o inferno são os outros". Explico.
   Cada vez mais me convenço que as pessoas têm se entregado ao individualismo exacerbado e tudo que advém dessa postura. Um dos efeitos que me parece muito claro na sociedade, consequência do individualismo, é a forma com que, cada vez mais, se transfere para algo externo as responsabilidades de cada um. Isso não é uma postura nova na humanidade, principalmente quando o assunto é Brasil, porém, creio que se avoluma em progressão geométrica esse pensamento em todas as camadas da sociedade. Obviamente, o destinatário principal e "natural" desse pensamento são os governos. Via de regra as pessoas tem preferido depositar nos governos (principalmente nos governantes) TODAS as mazelas da vida. O problema, na verdade, não é o fato puro e simples de "protestar" contra as ações ou omissões dos governos, mas que os protestantes desejam, na maioria das vezes, que o governo tome as decisões e se responsabilize por tudo. 
   A marioria das pessoas enche o peito e diz com orgulho: "eu não gosto de política, não me meto com política". O problema é que esse tipo de postura nada tem a ver com o fato de que grande parte dos políticos em atividade são corruptos, corporativistas, etc, mas com o fato de que com essa postura (imaginam) se desoneram da responsabilidade sobre as decisões e sobre os caminhos que os governos tomam. As pessoas não tem interesse em responsabilizar-se pelo coletivo, pelas ações que fazem diferença para o coletivo. Pra ser bem exato, o "interesse público" praticamente não existe mais no Brasil, e o pior, a maioria das pessoas não se choca e nem mesmo se importa com isso, pois estão tão empenhados em resolver "o seu problema", que o chamado interesse público passa longe de suas prioridades. Boa parte das pessoas, se investigarem as profundezas do seu ser, concluirão que se estivessem na posição dos governantes e se apresentasse uma "oportunidade" de "levar vantagem", não titubeariam e, pasmem, prevaricariam sem constrangimento maior. Pense nisso! Investigue o profundo de você mesmo!
   Vocês podem me dizer que estou indo muito longe, falando de algo muito amplo. Pois bem, então falemos do pequeno. Pessoas que tem filhos, por exemplo, cada vez mais "preferem" transferir para a escola a educação de seus filhos. Querem que a escola ensine a comer, a se vestir, a ir ao banheiro, tirar a fralda, o bico, a tratar bem as pessoas, ensinar valores, etc. Me perdoem, mas essa não é uma responsabilidade da escola, pelo menos não SÓ da escola. Os pais são responsáveis pela educação de seus filhos, de acompanhar o seu desenvolvimento inclusive na escola. Aliás, não esqueçam, as crianças normalmente aprendem de forma mais eficaz através do exemplo.
   Queremos que nossos filhos saibam se portar no trânsito, mas dirigimos a altas velocidades nas ruas e nas estradas, tomamos uma cervejinha e vamos dirigir (afinal, eu sei me controlar, eu tenho o domínio de tudo, comigo nada acontece), trancamos cruzamentos para tentar ganhar alguns segundos. Somos os "mais malandros". Muitos reclamam da indústria da multa, mas eu pergunto: como sobreviveria a indústria da multa se os motoristas simplesmente respeitassem as normas do trâsito? Reclamo da indústria da multa e dirijo após consumir álcool. Reclamo da indústria da multa e dirijo a 100, 120, 140km/h nas ruas da cidade.
   Só tem um jeito de mudar tudo isso e posso assegurá-los que não será um governo ou um partido político que trará a solução. Somente eu e você podemos mudar isso. Somente nós, se formos capazes de assumirmos nossas responsabilidades cotidianas, poderemos mudar isso tudo. E não se enganem com os marketeiros que fazem você pensar o país com paixonites, como se fosse um jogo de futebol. Não há partido do bem e partido do mal. Não há governante do bem e governante do mal. O que há, somos nós que votamos baseados em premissas equivocadas, olhando pro nosso próprio umbigo e torcendo como se estivesse num estádio. Pense bem sobre isso!

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