Renúncia, exercício do amor.

27 fevereiro 2013


    Estive pensando sobre a renúncia do Papa Bento XVI. Tentando compreender o significado disso tudo. A conclusão que cheguei é que este sem sombra de dúvidas é o grande legado que o Papa nos deixa. Essa é a sua catequese: a renúncia. Muito se falava que este era o Papa da intelectualidade, da teoria, mas é na prática que ele deixa o seu maior ensinamento. A marca de seu pontificado sem dúvida não será o que escreveu, mas seu testemunho de vida.
    Renúncia é uma palavra tão pouco invocada no discurso contemporâneo. Talvez esse seja o momento perfeito para chamá-la de volta ao convívio cotidiano. Compreender o seu sentido e a sua repercussão na vida de cada um e toda a humanidade.
    Falamos muito no amor, que amamos isso ou aquilo. Infelizmente o amor anda meio banal, no sentido mais insignificante da palavra. Provavelmente a banalização do sentido do amor se dá porque não compreendemos o amor como renúncia. Sim, amor é renúncia. Nos dias de hoje as pessoas não estão dispostas a dar o passo na direção da renúncia. A vaidade e um certo narcisismo endêmico, o qual somos levados a acreditar ser o caminho da felicidade, nos distanciam passo a passo do exercício da renúncia e, consequentemente, do exercício do amor.
    É esse talvez o motivo de cada vez mais as pessoas preferirem relacionar-se com seus animais de estimação ao invés de construirem uma família, por exemplo. Prefere-se um cachoro ou um gato ao invés de um filho. As pessoas não estão dispostas a renunciar seus pequenos prazeres ou seus planos de realizações pessoais em favor de outra pessoa. Não estamos dispostos a renunciar algumas noites de sono, a viagem preparada para as férias, o carro novo ou a possibilidade de ser "livre" para fazer o que bem entender. A mentalidade do homem do século XXI está na firme direção da satisfação dos desejos pessoais. Ou seja, sou feliz quanto tenho MEUS desejos satisfeitos. Ocorre que esta mentalidade não dialoga em nenhum momento com a lógica do amor. Já escrevi uma vez sobre isso, quando refleti sobre o filme Na Natureza Selvagem. Vai o link desse texto: http://blogorreiadesvairada.blogspot.com.br/2010/01/felicidade-so-e-verdadeira-quando.html.
    O amor necessariamente impõe o sentido inverso. A lógica do amor está na direção do outro. Renuncio o meu em favor do outro. Renuncio o meu prazer em favor do prazer do outro. Renuncio o meu sono em favor do sono do filho. Renuncio meus projetos em favor do outro. Parece radical? Pois eu digo, é de fato radical. Amar é extremamente radical. Amar é o exercício diário da renúncia. Amar é entregar-se ao outro sem reservas, sem esperar o troco. Me dou por completo sem reivindicar o retorno.
    É necessário que a humanidade compreenda esse ensinamento do Papa. É necessário que a humanidade caminhe na direção da renúncia, na direção do amor.


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